Título: Dólar e safra provocam deflação
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 31/05/2005, Economia, p. A19

O Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) registrou deflação de 0,22% entre os dias 21 de abril e 20 de maio, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A variação, a menor desde julho de 2003 (quando fechou em -0.42%), foi puxada pela recuperação da safra agrícola, dos produtos cujos preços são determinados pelo mercado externo e pela desvalorização do dólar, apontam especialistas. O Índice de Preços ao Atacado, que compõe 60% do IGP, variou de 0,96% em abril para -0,77% em maio.

- A queda dos preços das commodities foi fundamental para este movimento. Nesse sentido, em maio, o maior impacto foi dos produtos agrícolas, mas já vemos uma influência dos produtos industriais, como o álcool hidratado, a carne, a madeira, a borracha e os produtos metálicos, que estão seguindo as cotações lá fora - avalia o economista Carlos Thadeu Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). - Já vinha notando essa queda nos preços ao atacado, que, no entanto, ainda não havia se refletindo nos IGPs. Por isso, acredito que esse efeito segurará o IGP-M nos próximos meses em um nível próximo de zero.

Já Alex Agostini, da GRC Visão, ressalta o efeito da safra.

- Todo choque de oferta se corrige no curto prazo. A estiagem que reduziu a safra e provocou alta na inflação no início do ano já passou - explica ele, que aposta em um IGP mais alto meio do ano. - Com a normalização dos efeitos que puxaram para baixo o índice, que se estabilizará em 0,5%.

Thadeu Filho, da UFRJ, não descarta o efeito do câmbio em queda na deflação de maio no IGP-M. Ontem, o dólar fechou a R$ 2,371, a menor cotação desde 30 de abril de 2002.

- O real apreciado ajuda a reduzir o IGP-M, já que torna mais baratos alguns insumos importados, mas não foi determinante.

Os analistas concordam que os preços externos e a cotação do dólar, que determinaram um IGP-M negativo, não refletirão no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE e utilizado pelo Banco Central como balizador da meta de inflação anual, fixada em 5,1% para 2005.

Os analistas descartaram o efeito da elevação da taxa básica de juros - que, em um ciclo de nove altas, passou de 16% para 19,75% ao ano - na queda do IGP-M de maio, embora o BC tenha apontado ontem redução de 6,38% para 6,35% a previsão na previsão do mercado para o IPCA no fim do ano.

- Acredito que o IPCA feche próximo de 0,1% em junho, mas seria provocado pela queda dos preços dos remédios e do álcool. Os juros ainda não esfriaram a economia, já que o crédito permitiu o avanço do consumo - diz Thadeu Filho.

Agostini, no entanto, aposta em um IPCA em patamar bem mais elevado.

- O Brasil está menos sensível à variação cambial. Além disso, a inflação corrente está em torno de 7%. Acredito que o IPCA de maio venha entre 0,5% e 0,6% e, por isso, aposto em nova elevação do juro em 0,25%.

O Índice de Preços ao Consumidor, que responde por 30% do IGP, acelerou de 0,8% em abril para 1,22% em maio. O Índice Nacional da Construção Civil (INCC) passou de 0,38% para 0,54% no período.