Título: Servidores do Cespe começam a depor hoje
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 31/05/2005, Brasília, p. D1

A Polícia Civil começa a ouvir hoje cerca de 30 funcionários do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe) que participam diretamente do processo de elaboração e confecção das provas de concursos realizados pela instituição. Segundo o diretor de Comunicação Social da Polícia Civil, Miguel Lucena, a polícia quer descobrir como funciona o sistema de segurança dos concursos, quem manipula, imprime e distribui as provas. Os investigadores suspeitam de que, além do ex-funcionário da gráfica, Fernando Leonardo Oliveira Araújo, preso no sábado, pelo menos outros dois funcionários do Cespe estariam envolvidos no esquema de fraude de concursos descoberto pela Operação Galileu. Durante toda a tarde de ontem, diretores das delegacias envolvidas na investigação se reuniram para analisar as provas obtidas até agora.

- Os delegados decidiram os nomes do Cespe que serão ouvidos e as estratégias de investigação que serão tomadas - explicou Lucena.

Os investigadores resolveram ouvir os funcionários do Cespe depois de o diretor acadêmico do órgão, Mauro Rabelo, detido no sábado, admitir que haveria a possibilidade de vazamento da prova, já que cerca de 30 pessoas tinham acesso ao documento, seja durante elaboração ou na gráfica.

Rabelo foi preso no sábado, mas foi liberado em menos de oito horas porque, segundo a polícia, Carlimi Argenta de Oliveira, 29 anos, voltou atrás em seu depoimento e negou que o diretor lhe passava provas de concursos, como chegou a afirmar. Carlimi, foi apontada por Hélio Ortiz, líder confesso da quadrilha, como o elo entre os fraudadores e a instituição.

Fontes da Polícia Civil afirmam que Ortiz teria dito, durante uma conversa informal com policiais, que exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também teriam sido fraudados pela quadrilha. Há indícios de fraude também no vestibular da Universidade de Brasília (UnB), instituição vinculada ao Cespe. Nenhuma das suspeitas é confirmada oficialmente.

Ainda hoje, os investigadores irão solicitar, à polícia de Mato Grosso, cópia do inquérito policial que investigou suspeita de fraude no concurso para auditor tributário, realizado pelo Cespe em 2002. A polícia vai solicitar também a sindicância feita pelo Cespe na época, quando a instituição afirmou não haver provas de fraude.

A polícia deverá concluir o inquérito que investiga as fraudes no concurso para agente penitenciário federal, realizado no dia 22, amanhã e encaminhá-lo à justiça. Das 30 pessoas apontadas como pertencentes à quadrilha, 6 estão foragidas, entre elas o major Bonaldo Barbosa de Souza, secretário de Educação de Valparaíso.

Diretor suspeito - Segundo fontes da Polícia Civil, o ex-diretor acadêmico do Cespe, Mauro Moura Severino poderia estar envolvido com a fraude de concursos. Moura foi diretor do órgão de 1994 até março de 2003, quando se desentendeu com outros diretores e pediu desligamento da instituição. Professor de engenharia elétrica na UnB por mais de 10 anos, Moura foi aprovado em primeiro lugar no concurso para engenheiro elétrico da Câmara dos Deputados, realizado pelo Cespe, em 2003.

- Desde que saí do Cespe não tive mais contato com o pessoal de lá. Me preparei para o concurso e por isso fui aprovado. Sou professora há anos, no dia do concurso a maioria dos concorrentes eram meus alunos. Meu passado me credencia a ser aprovado num concurso como esse. Entendo que a polícia tem que varrer todas as possibilidades mas afirmo que não houve fraude na minha aprovação - disse Moura.

Segundo o Cespe, Moura estava afastado da instituição quando aconteceu o concurso, e, por isso, poderia fazer as provas como qualquer candidato. O órgão negou o envolvimento do ex-diretor em qualquer tipo de fraude.