Título: Antibiótico na medida exata
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 31/05/2005, Saúde, p. A12

Ninguém gosta de tomar antibiótico, entretanto, em caso de uma infecção bacteriana é indispensável. Mas, como qualquer remédio, quanto mais curto o tempo de tratamento melhor. Uma pesquisa desenvolvida por um grupo de médicos de vários países da América Latina, inclusive do Brasil, deve beneficiar os pacientes nesse sentido. O estudo pretende demonstrar que o tratamento para pneumonia com antibióticos por 15 dias é muitas vezes desnecessário, bastariam oito para a cura.

- Depois deste tempo o paciente praticamente não teria benefício, mas aumentariam os malefícios do antibiótico - conta o médico Flávio Nácul, coordenador brasileiro do trabalho.

Os resultados preliminares - apresentados no ano passado, no Chest (Congresso Americano de Doenças do Tórax), em Seattle (EUA) - já sinalizaram a confirmação da premissa. Nácul explica as vantagens:

- Em primeiro lugar, é economia para o governo, para os seguros saúde e para o próprio paciente. Um tratamento com antibiótico pode chegar a custar R$ 1.200 reais. Em segundo lugar, reduz os efeitos colaterais, porque a pessoa fica menos tempo exposta a droga - afirma o coordenador do CTI da Clínica São Vicente.

Os antibióticos atacam a flora intestinal podendo causar diarréia, além disso, há chance de provocarem alergia cutânea e insuficiência renal. A primeira etapa do estudo acompanhou 65 pessoas com pneumonia grave, em diversos centros de países da América Latina, como México, Equador, Chile e Brasil.

- É o primeiro estudo latino-americano multicêntrico já realizado - ressalta o mexicano Abel Maldonado, que coordena a pesquisa junto com Michael Niederman.

Os pacientes foram divididos em dois grupos, um com 31 pessoas medicadas durante 8 dias ou menos, e outro com 34, que tomaram antibióticos por 9 dias ou mais. No primeiro grupo, 71% dos doentes se curaram, enquanto no segundo a parcela correspondente foi de 61,8%.

De acordo com Nácul, devido a proximidade dos números, em termos de pesquisa isso significa que a eficácia de todos as opções de tratamento foi equivalente. Todos os indivíduos que participam do estudo são doentes de CTI (Centro de Terapia Intensiva). Por causa do uso do aparelho respiratório, eles ficam mais expostos e é comum contraírem pneumonia.

- Se o experimento for bem sucedido nesses pacientes, significa que a duração do tratamento pode ser aplicada em qualquer pessoa - explica.

Na primeira fase, que durou quatro meses, participaram oito pacientes de três centros brasileiros: a Clínica São Vicente, o Hospital Clementino Fraga Filho e o Hospital de Base de São José do Rio Preto. Atualmente, está sendo feito o acompanhamento de cerca de 400 pacientes - a última etapa da pesquisa. Os dados estão sendo analisados e devem ser divulgados daqui a um ou dois meses.

- O resultado definitivo será publicado em uma revista médica - conta o coordenador.

Nácul e Maldonado concordam que, certamente, os resultados preliminares serão confirmados. Um dos motivos é que já foi publicado, em novembro de 2003, um estudo francês semelhante com 401 pacientes de CTI, que provou a eficácia equivalente entre o uso de antibiótico por oito ou 15 dias.

- Tem muitas coisas, em medicina, que se tomam como verdade científica, mas que nunca foram testadas especificamente. É isso que estamos fazendo em relação ao uso de antibiótico para pneumonia - conclui Nácul.