Título: Saldo de balança comercial cai 11%
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 02/06/2005, Economia e Negócios, p. A19
Governo reconhece efeito do dólar baixo no ritmo de exportações em maio e aponta China como vilã BRASÍLIA - Apesar de a balança comercial ter registrado em maio superávit de US$ 3,452 bilhões, as constantes baixa do dólar e os preços baixos oferecidos pelo mercado chinês acabaram desacelerando o crescimento positivo do país. Depois do aumento de 15% entre março e abril, o superávit comercial registrou queda de 10,9% em relação ao mês anterior. Segundo levantamentos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o desempenho foi conseqüência do crescimento menor das exportações - 1,6% na média diária em relação a abril - e expansão maior das importações - 13,9%.
O secretário de Comércio Exterior, Ivan Ramalho, explica que mesmo com a diminuição do ritmo de crescimento das exportações, a balança registra o segundo melhor desempenho do ano, perdendo apenas para o mês de abril, quando o superávit foi de US$ 3,876 bilhões. O saldo acumulado de maio é de US$ 15,646 bilhões no ano.
- As estatísticas comprovam que o exportador brasileiro tem, mesmo com todas as dificuldades, buscado novos mercados. Quem abriu um canal de vendas está mantendo o canal - afirmou Ramalho.
A China aparece como grande vilã. O país diminuiu sua lista de compras brasileiras de 58,3% (acumulado de janeiro-abril) para 26%, no mês passado, mantendo a venda de seus produtos para o Brasil no patamar de 54%. O alto valor importado de produtos chineses é justificado pelos baixos preços oferecidos, principalmente em calçados e confecções.
Para Ramalho, a queda do dólar - que já fez alguns estragos na economia - ainda pode prejudicar as exportações brasileiras.
- Uma balança registrando US$ 10 bi é uma marca importante para o quadro atual do país. Mas é claro que alguns setores podem realmente perder negócios com a falta de preços competitivos - avalia ao afirmar que o ministério mantém a previsão de exportar US$ 112 bilhões este ano.
As vendas brasileiras para o exterior no mês de maio tiveram maior destaque para manufaturados, como automóveis (+63,5%).
Houve recuo nas vendas de aviões (-41,6%), soja em grãos (-28,6%) e farelo de soja (-17,2%). No acumulado do ano, as exportações cresceram 27,9% em relação ao mesmo período de 2004.
Maio, em relação aos outros meses do ano, registrou recorde em importações: US$ 6,367 bilhões.
Para a economista Cecília Hoff, da UFRJ, o recuo no superávit não é preocupante.
- As importações tinham caído muito nos últimos três meses e o movimento de agora é apenas uma normalização do ritmo de compras externas. Além disso, estamos comprando mais combustíveis e bens de capital, o que significa investimento na produção interna - minimiza.
O economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, porém, vê efeito do câmbio.
- Se o dólar não voltar a se elevar em um mês e meio, as exportações começarão a cair com mais intensidade, o que pode prejudicar ainda mais o desempenho do PIB.