Título: " Crescimento vai surpreender "
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Fonte: Jornal do Brasil, 02/06/2005, Economia e Negócios, p. A18
Lula desconfia de dados do IBGE sobre retração do consumo das famílias
SÃO PAULO - Na ressaca da divulgação do pífio crescimento econômico no primeiro trimestre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que neste ano o crescimento econômico ''vai surpreender outra vez''. A declaração do presidente foi feita na abertura do Salão do Turismo - Roteiros do Brasil, na capital paulista. - Este ano vai ser outra bela surpresa - disse.
Em 2003, em seu primeiro ano de governo, Lula chegou a falar em ''espetáculo do crescimento''. Naquele ano, a variação do Produto Interno Bruto (PIB) foi de apenas 0,5%.
Ontem, o IBGE informou que o crescimento trimestral foi de apenas 0,3% na comparação com o quarto trimestre do ano passado. É a menor taxa desde o segundo trimestre de 2003, quando o crescimento foi de 0,1%. Para o instituto, ''há uma desaceleração geral''.
Mas Lula afirmou que, desde que entrou no governo, ''todos os dias se lê alguma manchete de que acabou o mundo, está tudo errado, a economia não vai bem; e agora começou outra vez''. Mesmo assim, reforçou o tom otimista.
- É verdade que houve uma retração agora? É verdade - disse. - Mas nós estamos crescendo há oito trimestres consecutivos, coisa que há dez anos não acontecia no Brasil.
O presidente voltou a defender a política fiscal do governo, e anunciou que ela perdurará. De janeiro a abril, o país gerou um superávit primário de 7,26%, quando a meta é de 4,25%.
Durante os mais de 30 minutos em que discursou para uma platéia de empresários do setor do turismo e participantes do evento, Lula também abusou das metáforas para enfatizar que a economia vai bem. O problema, disse, é o pessimismo dos que torcem contra o país. Lula disse que o governo teve de fazer ''um sacrifício muito grande'' para controlar a inflação e observou que alguns setores, como os governos estaduais, Caixa Econômica Federal e prefeituras não perdem dinheiro com a alta dos preços, ''mas o povo, que vive de salário, não pode ter inflação''.
O Banco Central afirma que o perigo da volta da inflação justifica os constantes aumentos na taxa básica de juros. Para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ligado ao Planejamento), é justamente isso que está impedindo o crescimento.
Sempre com tom otimista, Lula destacou que ''é a primeira vez na história que há saldo de conta corrente sem recessão e com a economia crescendo''. Ele questionou as informações do IBGE de que a demanda das famílias teve queda de 0,6%, a primeira desde o segundo trimestre de 2003. ''Hoje (ontem), por exemplo, eu vi uma manchete: 'Consumo da família cai 0,6%'; aí, no mesmo jornal, 'Pesquisa da Federação do Comércio mostra que o varejo cresceu 5,6%'. Ora, se o varejo cresceu, o que estou consumindo no varejo?''