Título: O PIB da discórdia
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 02/06/2005, Economia e Negócios, p. A17

Empresários dizem que vão parar investimentos e rever metas depois do fraco desempenho da economia no primeiro trimestre BRASÍLIA - A retração do consumo interno, que provocou uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,3% no primeiro trimestre do ano, forçará a indústria siderúrgica nacional a rever suas estimativas de vendas no mercado brasileiro, informou o novo presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Luiz André Rico Vicente, empossado ontem. Para driblar o problema, o setor deverá aumentar as exportações e, assim, compensar perdas. - Será uma tentativa para assegurar a venda da produção e deve compensar perdas mesmo com o câmbio desvalorizado - disse Rico Vicente. Hoje, 45% da produção nacional são destinadas ao exterior.

A estimativa inicial do IBS era de que as vendas internas cresceriam das 17,7 milhões de toneladas em 2004 para 19,6 milhões de toneladas este ano, enquanto as exportações poderiam sofrer recuo de 2,9%. Diante do novo cenário econômico, no entanto, este cenário poderia ser invertido. A nova estimativa só deve ser anunciada em julho.

Mesmo diante de um quadro não tão favorável para o setor, Rico Vicente acredita que o resultado financeiro das empresas será semelhante ao registrado em 2004.

- Se houver queda, deverá ser pequena, já que 2005 começou com um patamar de preços elevados - comentou.

Em relação ao preço do aço no mercado internacional, Rico Vicente disse haver uma tendência de queda, enquanto que no mercado nacional eles estão equilibrados.

O presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau, disse que a empresa só não está suspendendo investimentos por conta da perspectiva de benefícios que poderão ser gerados pela chamada ''MP do Bem'', que vai desonerar os investimentos do setor produtivo voltados à exportação.

- Espero que a medida também seja válida para os exportadores nacionais e não somente os de capital estrangeiro - ressalvou.

A desaceleração da economia também preocupa o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Sales, que prevê um crescimento menor do setor para este ano, mas não arriscou dar palpite.

- Para cada um ponto de crescimento do PIB, nosso setor avança 2,2 pontos. Com o resultado de 0,3% no primeiro trimestre, ficamos com nosso crescimento afetado - diz Sales.

O executivo acrescenta, no entanto, que ainda não houve recuo na demanda ligada à indústria automobilística e de linha branca. Até agora, a queda nas encomendas está ligada a produtos do setor agrícola por conta da estiagem.

As críticas não pararam por aí. Para o presidente do conselho administrativo da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, já está exaurido o modelo do governo de conter inflação por meio do aumento dos juros.

- Hoje já vivemos uma situação muito pior do que do 0,3% apurado no trimestre, O segundo será trágico - alerta.

Por conta deste panorama incerto, Steinbruch disse que os investimentos da empresa não estão sendo feitos da maneira planejada. Ele cita como exemplo a expansão da mina Casa de Pedra e do terminal de Sepetiba.

- Estamos esperando mudanças na política monetária.

Presentes ao evento do setor siderúrgico, os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Defesa, José Alencar, trataram de tentar reverter as críticas à política econômica. Dirceu defendeu a política monetária do governo e afirmou que a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) será reduzida quando a inflação ''arrefecer''.

- Devagar com o andor, os juros estão aí para combater a inflação. O governo está fazendo a parte dele. Temos que aguardar o resultado da inflação. A autoridade monetária vai reduzir os juros quando a inflação arrefecer - afirmou.

Dirceu lembrou ainda que em 2003, quando o governo também foi criticado por travar o crescimento, o Banco Central adotou a ''política de juros que era necessária e depois reduziu os juros e o país cresceu 5,2% em 2004'', disse ele, esquecendo-se da revisão da expansão do PIB de 2004 para 4,9%.

Contumaz crítico dos juros, o vice-presidente José Alencar amainou a lingua afiada. Ele disse que ''há tempo suficiente para uma retomada do desenvolvimento''.

- Eu não tenho dúvidas de que o Brasil vai reagir e vai crescer a taxas elevadas, porque é o que nós precisamos - afirmou Alencar.