Título: Palocci descarta mudanças
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 02/06/2005, Economia e Negócios, p. A17

Ministro nega alterações na meta de inflação BRASÍLIA - O governo não pretende mudar a política econômica apesar do baixo crescimento da economia no primeiro trimestre. Ontem, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que as metas de inflação de 2005 e 2006 e a política de juros praticada pelo Banco Central (BC), apontadas como responsáveis pela queda dos investimentos e do consumo, serão mantidas. O ministro também declarou que o governo não intervirá no câmbio para conter a desvalorização do dólar frente ao real, medida que poderia dar fôlego às exportações brasileiras. Em discurso afinado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Palocci demonstrou confiança no crescimento da economia do país neste ano. Como justificativa para o otimismo, lembrou que houve crescimento nos oito últimos trimestres, repetindo argumento ventilado pelo chefe do Executivo.

O ministro citou ainda o cenário externo, que continuaria favorável à atividade econômica brasileira.

- Não dá para comemorar crescimento com inflação descontrolada. Não trocaremos um ganho de curtíssimo prazo por um ganho de longo prazo - afirmou Palocci.

Para conter pressões inflacionárias supostamente detectadas em meados do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a taxa básica de juros da economia nos últimos nove meses. A definição da Selic em 19,75% ao ano é o mecanismo encontrado pela autoridade monetária para cumprir a meta de inflação estipulada para 2005, de 5,1%, com margem de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. A meta para 2006 é ainda mais rigorosa, de 4,5%.

Na semana passada, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu a revisão da meta do próximo ano para, pelo menos, 5,1%. Posição semelhante é defendida, entre outros, pelo vice-presidente, José Alencar, e o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega. Apesar da pressão política, Palocci afastou a possibilidade de adotar metas de inflação menos rigorosas.

- Historicamente, não tem sido positivo para o Brasil admitir um pouco mais de inflação. Não devemos ser lenientes com o comportamento da inflação - disse Palocci.

O ministro enfrenta a crítica de políticos e do setor produtivo também no que diz respeito ao câmbio. Com a taxa de juros alta, aumenta a entrada de dólares no país atraídos pela remuneração da Selic. Segundo os críticos, o ''círculo vicioso'' valoriza o real e reduz a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, ameaçando o desempenho comercial.

- Não acredito que seja virtuoso o governo dar um valor para o câmbio. Desde janeiro de 2003, os críticos anunciam que haverá crise no comércio exterior em três meses. Nada disso ocorreu - afirmou Palocci.

Além de rechaçar mudanças na condução da política econômica, o ministro apelou ao Congresso para que aprove a agenda econômica do governo, como a reforma tributária.