Título: Solventes atraem classe média
Autor: Duilo Victor
Fonte: Jornal do Brasil, 02/06/2005, Rio, p. A14
Pesquisa desmistifica uso de tíner por meninos de rua. Produto é vendido sem controle Apesar da legislação municipal que proíbe a venda de solventes para menores de idade, uma equipe do JB conseguiu comprar com facilidade uma lata de tíner para acabamento de pinturas, em uma loja de tintas no Centro. Sem anotar o número da identidade do comprador - como manda a lei - a lata pôde ser levada por R$ 8,80. Por telefone, o JB entrou em contato com o gerente da loja, que admitiu a falha, mas ponderou ao afirmar que em sua rede de lojas nunca houve fiscalização da prefeitura em relação à lei. A ausência de fiscais e do cumprimento da lei reforça os números negativos do Rio em relação ao mais recente Levantamento Nacional sobre Consumo de Drogas entre Estudantes, divulgado esta semana.
A pesquisa derrubou a imagem de que só menores infratores inalam solventes no Rio. De acordo com José Carlos Galduróz, coordenador da pesquisa feita pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, a incidência de jovens que usam este tipo de droga é a mesma entre as classes A e B e os mais pobres. Entre 2.758 estudantes cariocas entre 10 e 18 anos entrevistados no ano passado, 13,8% - pobres ou ricos - afirmaram ter experimentado algum tipo de solvente pelo menos uma vez.
Dentre as drogas consideradas solventes se encontram a cola de sapateiro, éter, acetona, tíner e até o lança-perfume. Jovens entre 13 e 15 anos são os que mais disseram ter inalado solventes: 17,6%. Para o coordenador, no entanto, o que mais impressiona é o alcance deste tipo de entorpecente entre a faixa etária de 10 a 12 anos. Já experimentaram 7,8% dos entrevistados nessa faixa.
- Cola ou tíner são drogas de uso mais marginal. Quem tem acesso a esses entorpecentes geralmente passa a usar maconha ou cocaína - explica Galduróz.
O coordenador diz ainda que os usuários das classes A e B têm a característica de usar mais tipos de drogas por ter mais poder aquisitivo.
- A crença de que só menores infratores usam solventes está muito arraigada na sociedade. Pessoas bem nascidas também têm se envolvido com inalantes - diz Galduróz.
Na quinta edição da pesquisa, realizada desde 1987, ficou provado que os estudantes brasileiros são os que mais usam solventes como entorpecente no mundo. No Rio, o levantamento indicou que o índice aumentou em relação à pesquisa anterior, de 1997. Naquele ano, 11,2% dos jovens entre 10 e 18 anos responderam já terem inalado solventes, contra os 13,8% do ano passado.
A coordenadora do ambulatório do Conselho Estadual Antidrogas, Sabine Cavalcante, explica que o uso de solvente por jovens de classe média e média alta é mais sofisticado que entre os miseráveis:
- Enquanto os menores infratores usam só cola de sapateiro ou tíner, que são muito baratos, o jovem mais rico usa lança-perfume e cheirinho-da-loló, drogas que infelizmente estão voltando à moda.