Título: 'Bebê sereia' vive mais um milagre
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/06/2005, Internacional, p. A12

Cirurgia para separar as pernas de Milagros, de 13 meses, foi considerada um sucesso pelos médicos

LIMA - Foi bem-sucedida a cirurgia de separação das pernas de Milagros Cerron, a peruana de um ano e um mês de idade ficou conhecida como ''bebê sereia''. A menina nasceu com uma síndrome, chamada sirenomelia, na qual as pernas do feto se fundem. Em uma avaliação otimista, segundo o cálculo dos médicos, depois de nova operação a que será submetida dentro de sete ou oito meses, ela poderá caminhar já antes de completar dois anos.

- Observamos o movimento independente em suas articulações no joelho. A cirurgia foi um sucesso - comemorou o médico Luis Rubio, coordenador dos 11 especialistas que concluíram, na madrugada de ontem, uma maratona de quase cinco horas. Na equipe do Hospital da Solidariedade de Lima havia cirurgiões cardiovasculares e plásticos, neurologistas, ginecologistas e um pediatra.

- Conseguimos mais do que tínhamos planejado - festejou Rubio.

O otimismo se deve ao fato de terem conseguido separar as pernas até 10 cm acima dos joelhos de Milagros. A meta inicial era a de liberar apenas as extremidades, no trecho entre os tornozelos e o joelho. O ganho foi resultado da descoberta de que duas artérias importantes, que se pensavam unidas, estavam na verdade separadas.

- Estou muito contente. Espero que minha filha possa caminhar em breve - afirmou a mãe de Milagro, Sara Arauco.

Ela e o pai da menina chegaram a cogitar impedir a realização da cirurgia. Consideravam que o problema do bebê era uma maldição e um castigo divinos. A família vivia em Chupaca, povoado na região central do Peru e uma das explicações para o problema pode ter sido o contato excessivo com defensivos agrícolas. Foram convencidos pelos médicos de que era o melhor caminho. Antes, a pequena conseguia mover as pernas independentemente, mas elas estavam envolvidas por uma bolsa de tecido e gordura que ia até os tornozelos. Os pés estavam posicionados em forma de ''v'', o que se assemelhava à cauda de uma sereia.

Para que a pele cobrisse os membros inferiores quando estes fossem separados, Milagros teve bolsas de silicone com uma solução salina inseridas nas pernas para esticar o tecido.

O êxito se mostra maior quando se considera a raridade do mal que afeta um em cada 60 mil casos de má formação congênita. Atualmente se conhece apenas três crianças com o problema no mundo. A maioria dos indivíduos que sofrem de sirenomelia morrem nos primeiros 15 dias de vida.

Milagros deve se submeter a várias outras cirurgias até a adolescência. A menina tem apenas um rim funcionando, e suas funções cardíacas e pulmonares são normais. O ânus, os órgãos genitais e a uretra precisarão ser reconstruídos. Ela ainda vai precisar de uma segunda intervenção para separar as pernas até o abdôme, e uma correções no aparelho digestivo e genital. O prefeito de Lima é o padrinho de Milagros e a cidade está pagando todos os custos do tratamento.