Título: Gerente preso acumulou patrimônio
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 03/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - O gerente executivo do Ibama em Mato Grosso, Hugo José Scheuer Werle, melhorou de vida nos últimos dois anos. Em 2002, segundo a Polícia Federal, Hugo não tinha nenhum patrimônio. Em 2003, já acumulava R$ 246 mil. No ano passado, o patrimônio dele subiu para R$ 426 mil. Hugo foi preso por ter recebido propina ''para fins diversos''. Também é acusado de liberação de projetos do Ibama, ''ignorando parecer contrário da área técnica''. Nas escutas telefônicas de integrantes da quadrilha, segundo a PF, ficou comprovado o envolvimento do funcionário do Ibama.

Uma das suspeitas é que Hugo aprovaria termos de conduta para empresários de forma ilegal. O termo de conduta é um acordo que o agressor do meio ambiente assina com o governo para se livrar de multas de até R$ 1 milhão, geralmente para recompor a área desmatada. Estes acordos também eram fraudados em Mato Grosso.

Junto com Hugo, foi preso seu substituto no cargo, Marcos Pinto Gomes, um policial rodoviário cedido ao Ibama. Os dois poderão ser indiciados por corrupção passiva e enriquecimento ilícito. O governo já nomeou um interventor para assumir o Ibama em Mato Grosso.

Mas a prisão que mais causou alvoroço em Mato Grosso foi a do secretário do Meio Ambiente e presidente da Fema, Moacir Pires. Ele é conhecido pelo embate público com Hugo em torno da responsabilidade pelo aumento do desmatamento no Estado. Agora, os dois dividem a mesma cadeia. Pires é o braço direito do governador do Estado, Blairo Maggi, na área do meio ambiente.

Ontem, o secretário de Comunicação do Mato Grosso, José Carlos Dias, afirmou que o governo ''vai emitir uma nota'' sobre a prisão do secretário e também abordando as críticas do secretário de Desenvolvimento Sustentável, Gilney Viana, que responsabiliza Magi pela devastação ambiental.

A lista de presos inclui ainda uma série de empresários famosos do Mato Grosso, a maioria apontada como corruptores da quadrilha. Os madeireiros Alcemir Moro, Elton Luiz Uliana e Deivid Mateus Lopes foram presos por compra de madeira de empresas fantasmas. O lobista Álvaro Fernando Cícero Leite foi preso por pagamento de propinas e liberação de projetos florestais.

A quadrilha também liberava cargas irregulares, depois de apreendidas. O servidor do Ibama Benedito Paes de Camargo foi preso por enriquecimento ilícito e liberação destas cargas. O despachante Damasceno Mozer foi detido sob a acusação de grilar terras e por ser uma espécie de procurador de laranjas.

Outro detido foi o madeireiro Dirceu Benvenutti, acusado de envolvimento no esquema de passagem de carga irregular no posto fiscal, grilagem de terras e envolvimento com guias falsas. Alguns despachantes presos acusados de vários crimes, incluindo emissão de procurações falsas, pagamento de propinas e representação de empresas fantasmas.