Título: PF faz a sua maior operação contra o desmatamento
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 03/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - O governo desferiu um golpe nas quadrilhas que desmatam a Amazônia. Na maior operação de sua história, a Polícia Federal foi a campo para executar, em seis Estados, 124 mandados de prisão de empresários, despachantes e servidores públicos. Foram executados 168 mandados de busca e apreensão. As prisões foram feitas em Mato Grosso, Distrito Federal, Santa Catarina, Pará, Rondônia e Paraná. Até o início da noite, segundo a PF de Mato Grosso, haviam sido presas 88 pessoas, numa lista que inclui o gerente executivo do Ibama em Mato Grosso, Hugo José Scheuer Werle, e o secretário de Meio Ambiente do Estado, Moacir Pires, também presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fema). O diretor de Florestas do Ibama em Brasília, Antônio Carlos Hummell, se entregou à PF no início da noite. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ficou assustado com a infiltração da quadrilha no aparato estatal.

- Era um câncer - afirmou Thomaz Bastos.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, seguiu na mesma linha:

- Vamos cortar na carne para extirpar o tumor da corrupção

A ministra ia comparando os membros da quadrilha a ''cupins'', mas foi alertada pela assessoria de que os insetos têm papel importante na biodiversidade. Formada por grandes empresários, a quadrilha agia há 14 anos dentro do Ibama e da Fema, com a ajuda de 58 servidores públicos.

As madeireiras despejavam toneladas de madeira ilegal no mercado interno e no exterior, principalmente na China, pagando R$ 2 mil por cada autorização para transporte de produtos florestais (ATPF) fraudada. O volume de madeira vendida irregularmente é de 1,98 milhão de metros cúbicos, que enche 66 mil caminhões, uma fila que equivale a 2.385 quilômetros, ou uma ida e volta Rio-Brasília. São 52 mil campos de futebol desmatados irregularmente, com madeira avaliada em R$ 890 milhões.

Batizada de Operação Curupira - referência ao folclórico menino com os pés virados para trás, que despista quem o segue - a ação da PF identificou 431 empresas ''fantasmas'' registradas no Ibama de Mato Grosso, criadas para falsificar documentos, concessão de créditos irregulares a reflorestadoras e emissão de laudos de vistoria falsos.

Os empresários também pagavam propinas para que o Ibama fizesse vista grossa nos planos falsos de manejo. Entre as madeireiras interditadas por irregularidades estão as multinacionais Sulmap e Ancacil. Na sede da Ancacil foram encontradas autorizações falsas de madeira falsas e adulteradas. O dono da Madeplacas, Osmar Queiroz, foi preso por pagar propinas e irregularidades com ATPF's. Foi também cumprido mandado de busca na Americanwood.

Pressionada pela mídia internacional por mais um recorde de desmatamento no ano passado, a ministra Marina Silva revelou que foi orientada pelo diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para não falar sobre as prisões em recente entrevista sobre a devastação de 26 mil quilômetros quadrados no país, no ano passado.

Para evitar suspeitas, durante as investigações, só ontem Marina começou a demitir os servidores envolvidos com a fraude. A investigação durou 20 meses. Lacerda afirmou que hoje os policiais têm ''paciência para deixar quem está roubando roubar''. Com isso se pode identificar e prender uma quadrilha inteira.

O secretário de Desenvolvimento Sustentável, Gilney Viana, voltou a creditar a catástrofe ambiental ao governo do Mato Grosso.

- O governo de Mato Grosso é o grande depredador ambiente no país - disse Gilney.

Marina Silva anunciou várias medidas no Estado para tentar sanear a área ambiental. A primeira delas é uma ação civil pública contra a Fema por desmatamento. O governo de Blairo Magi tem sua própria legislação ambiental. Marina anunciou que é necessário criar um plano de desenvolvimento sustentável.

Marina criou a Operação Arribação, de investigação constante de crimes ambientais e decretou intervenção de 60 dias no Ibama de Mato Grosso.