Título: CPI: Governo tenta mudar foco no Congresso
Autor: Karla Correia, Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 03/06/2005, País, p. A4

BRASÍLIA - Para evitar que a CPI dos Correios domine o noticiário e paralise o Congresso, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, apresentaram ontem uma agenda positiva aos líderes aliados na Câmara. No mesmo horário, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também levava a mesma preocupação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A intenção era mostrar que o governo está disposto a mudar o cenário político negativo. Mas os aliados colocaram a liberação de emendas como condição primordial para ajudar no Congresso.

- O governo está inadimplente conosco - diz um líder.

Palocci prometeu que todas as pendências seriam quitadas, mas que seguiria o mesmo ritmo adotado nos anos anteriores para a liberação de recursos. Os líderes reclamaram que não se referiam às emendas de 2005 e sim, aos restos a pagar - alguns ainda de 2003.

- Para a base garantir as votações, têm de resolver nossos problemas - cobrou um aliado.

Foi Palocci quem abriu o encontro de ontem. Apresentou uma lista de prioridades do governo: 11 itens já em tramitação no Congresso e outros cinco, como as medidas de desoneração e a emenda constitucional do Fundeb, que ainda serão encaminhados ao Legislativo.

- Como bom médico diante de um paciente combalido, Palocci foi simpático e calmo, apesar da crise. Em nenhum momento mencionou a palavra CPI - confirmou um líder.

José Dirceu, que chegou 20 minutos atrasado, seguiu a mesma linha. Destacou que o país está bem, com exportações crescentes, sem pressões incisivas externas, em resumo, sem crises. Quando os ministros expuseram a necessidade de cooperação da base, as pendências financeiras surgiram.

José Janene (PP-PR) foi o primeiro líder a utilizar a palavra, alegando que tinha compromissos no Estado e não poderia ficar o tempo todo na reunião. Em menos de 20 minutos, deu o sinal de que o encontro não seria tão proveitoso assim. Segundo Janene, boa parte dos projetos considerados prioritários pelo Executivo - reforma sindical, tributária, agências reguladoras, marco regulatório do saneamento - estão no Legislativo há algum tempo. Só não foram votados pois o governo não se articulou.

- Não adianta dizerem que o Congresso está parado. Quem está comandando a obstrução da pauta de votações é o governo - acusou Janene.

O líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO) acredita que esta foi uma das mais proveitosas reuniões dos deputados com os ministros. Afirmou que os embates anteriores foram mais difíceis. Mas também colocou uma saia-justa na equipe econômica.

- Vem cá, os jornais de hoje disseram que a carga tributária bateu em 41%, é verdade? - indagou Mabel.

- Não, não é bem assim, as contas estão erradas, os números não são esses - teria respondido Palocci.

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que elogiou durante a reunião a coesão da bancada governista, garantiu que a agenda positiva não tem relação com a crise gerada pela CPI dos Correios:

- Tem a ver com o Brasil e com o fato do país e do Congresso não estarem parados.

Para a oposição, a agenda positiva pode até existir, desde que a CPI não seja jogada para escanteio. No plenário do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) declarou guerra explícita ao governo Lula.

- Não estamos aqui para aceitar nenhuma imposição do Planalto. Não vamos deixar que assuntos morais não sejam levantados - bradou ACM.