Título: Renan muda discurso. Pela terceira vez
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 03/06/2005, País, p. A4

BRASÍLIA - Pela terceira vez na semana, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) mudou o discurso em relação à CPI dos Correios. Ontem, o senador afirmou que, se não forem indicados os nomes dos integrantes da comissão até a próxima quarta-feira - quando acontecerá uma reunião com todos os líderes partidários - ele próprio vai escalar os deputados e senadores que farão parte da CPI Mista.

- Se os líderes não indicarem seus nomes, eu indicarei. Não vou pagar um preço por interpretações equivocadas - reclamou o presidente do Senado.

Na tarde de quarta-feira, no Salão Verde da Câmara, Renan havia dito que não instalaria a CPI antes que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e o plenário do Congresso se pronunciassem sobre a constitucionalidade da matéria. Ontem, admitiu que existe uma batalha de pressão e contra-pressão legítima da democracia. Mas que ele, como presidente do Senado, não se pautaria pela guerra política, sob pena de perder a isenção e a serenidade.

- Não posso perder o capital político da coerência. Todas as minhas interpretações serão feitas à luz do regimento - prometeu Renan.

O presidente do Senado citou que a CCJ vai se reunir na próxima terça-feira, um dia antes da reunião que terá com os líderes políticos. O peemedebista não quis discutir hipóteses - a CCJ não apreciar por conta de um pedido de vistas ou até mesmo a possibilidade de o recurso seguir diretamente para o plenário, conforme adiantou o Jornal do Brasil de ontem.

- Não trabalho com cenários, trabalho com o regimento - resumiu.

O presidente do Congresso expôs ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro no Palácio do Planalto, que CPIs não paralisam os trabalhos do Congresso. Citou as investigações do Banestado e da Reforma Agrária como exemplos disso. Ouviu de Lula que não vai interferir no Parlamento.

- O presidente me garantiu que já fez tudo o que pôde sobre o assunto, colocando o Ministério Público, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União para investigar as denúncias - afirmou Renan.

O relator do recurso contra a CPI dos Correios na CCJ da Câmara, Inaldo Leitão (PL-BA) acha estranho que Renan decida indicar os componentes da CPI antes que a Comissão dê o seu parecer.

- Como ele faz uma consulta à CCJ e não espera o parecer? Existe uma pendência que precisa ser sanada - estranhou Leitão.

Renan vem sofrendo um bombardeios nos últimos dias. O governo está dividido entre a estratégia de levar o recurso diretamente para o plenário ou tentar derrotá-lo, primeiramente, na CCJ, na quarta, os líderes governistas demonstravam tranqüilidade quanto à possibilidade da CPI ser arquivada, se o plenário da Câmara considerasse inconstitucional. Apoiavam-se em uma conversa com Renan.

Segundo alguns parlamentares, o presidente do Congresso não gostou de saber que os governistas estariam falando em seu nome. Durante a entrevista de ontem, Renan ainda demonstrava irritação com as dúvidas regimentais.

- Vocês não vão me fazer enveredar por este ou aquele caminho. Não vou fazer o jogo nem do governo nem da oposição - bradou.