Título: Polícia Federal vai ouvir dirigentes de outras estatais
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/06/2005, País, p. A5

BRASÍLIA - A Polícia Federal vai ouvir os dirigentes da Infraero, Eletronuclear e de Furnas responsáveis por indicar a corretora Assurê para intermediar operações de resseguro. As intermediações beneficiaram o corretor Henrique Brandão, dono da Assurê, amigo do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). A nova linha de investigação surgiu ontem, por conta do depoimento do ex-presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) Lídio Duarte, que deixou o cargo em fevereiro. Ouvido como testemunha, Duarte negou ter deixado o cargo devido a pressões para que arrecadasse uma mesada mensal de R$ 400 mil para o PTB por meio de operações administrativas irregulares. A afirmação consta de reportagem publicada pela Veja há duas semanas. Segundo a revista, o corretor, falando em nome do deputado teria exigido pagamento da mesada. A Veja reafirmou as declarações e disse que a entrevista com Duarte foi gravada.

No depoimento, Duarte negou ter sofrido pressão de Jefferson ou de Brandão. Atribuiu sua opção por deixar o cargo a uma decisão pessoal. Funcionário de carreira do IRB, estava aposentado e discordava da condução dada ao instituto, de seguir como o detentor do monopólio de resseguros no mercado brasileiro.

Duarte disse que não há obrigatoriedade de realizar licitações para contratação de seguros e também que é direito da empresa segurada indicar o corretor de sua preferência. Assim, não caberia ao IRB e sim às seguradas a responsabilidade última por repassar negócios à Assurê de Brandão.

Como a contratação da Assurê pela Infraero, Eletronuclear e Furnas se tornou pública pela imprensa, os dirigentes responsáveis pelas operações nessas empresas serão os primeiros a depor. A PF pedirá à Controladoria Geral da União que faça uma auditoria nos contratos dessas empresas para verificar outras indicações suspeitas de corretoras.

Acompanhado de seu advogado José Araújo, Duarte deixou a sede da PF em Brasília sem dar declarações. Segundo Araújo, a reportagem é uma ''fantasia''. O advogado disse ainda que a mesada ''não existe, nunca houve esse debate. Não houve nenhum pedido direto a ele''. No depoimento, Duarte disse que o deputado pediu a ele que nomeasse dois funcionários para o IRB. O pedido teria sido negado mediante a explicação de que o instituto só trabalha com servidores concursados.

O ex-chefe do Departamento de Contratação de Material e Serviço dos Correios Maurício Marinho será convocado para novo depoimento. A PF acredita que Marinho sabe mais do que falou e não teria colaborado para descobrir os responsáveis pela gravação na qual ele aparece recebendo um suposto pagamento de propina de R$ 3.000.

Na gravação, Marinho descreve o que seria um esquema de corrupção nos Correios, patrocinado pelo deputado Jefferson, do qual também participariam Antônio Osório, ex-diretor de Administração da empresa, e Fernando Godoy, seu ex-assessor executivo.

A Polícia Federal pediu à Justiça a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico dos três. Em depoimento, Marinho disse que as afirmações que fez na gravação foram ''bravatas''.