Título: Ministros reagem de maneira distinta
Autor: Ana Maria Tahan e Leila Youssef
Fonte: Jornal do Brasil, 02/06/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - - Os dois ministros que têm a função de articular com o legislativo, José Dirceu, da Casa Civil, e Aldo Rebelo, da Coordenação Política, reagiram de maneira diferente à entrada em campo do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Aldo Rebelo confirmou ontem que Palocci vem sendo a usado na tarefa de derrubar a CPI dos Correios por Palocci, e confessou um ''certo alívio'' com a ajuda.

- A participação do ministro Palocci é uma participação destacada pelo talento político do ministro e pela sua imensa responsabilidade - afirmou durante visita à Câmara dos Deputados, ao ser questionado sobre o envolvimento do ministro na operação abafa.

- A sensação é de certo alívio. Porque a articulação política é uma tarefa que precisa de muita ajuda e de muita força - acrescentou.

Já o ministro da Casa Civil, José Dirceu, negou a ingerência do ministro Palocci:

- O ministro não tem envolvimento para além da coordenação de governo que ele participa. O ministro Palocci não tem participação direta. É o ministro Aldo Rebelo que é o responsável pela articulação política. Nós só atuamos quando convocados pelo ministro Aldo Rebelo -, afirmou o chefe da Casa Civil.

O fato é que a desaceleração da economia acendeu a luz vermelha no Palácio do Planalto. A retração no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) - apenas 0,3% sobre o quarto trimestre de 2004, menor taxa desde o segundo trimestre de 2003 - recolocou a questão do controle dos juros no epicentro do debate político. A apreensão em relação ao tema foi manifestada a pelo menos dois ministros que estiveram com o presidente nos últimos dias, embora o governo tente transmitir a impressão de que se respira tranquilidade. De acordo com os interlocutores, Lula continua martelando na cabeça dos ministros que um dos erros da administração é deixar que os juros altos sejam o único meio de combate à inflação.

Não por acaso, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, incorporou o tom político numa coletiva concedida ontem em que reafirmou o ''acerto da política monetária''. Disse que nos últimos dois dias o governo está negociando com os líderes da base aliada, inclusive os presidentes das duas Casas, uma agenda positiva no Congresso. O objetivo, segundo ele, é que os parlamentares ''contribuam para o crescimento da economia do país''.

Sobre as emendas parlamentares, o ministro afirmou que a liberação dos recursos seguirá seu ritmo normal, independente das negociações com deputados e senadores:

- As emendas fazem parte da execução orçamentária, mas neste ano não há comportamento em nada diferente dos outros anos relativamente a essa questão, nem há nenhuma requisição para que a Fazenda proceda de forma diferente com relação à emenda parlamentar - declarou.

Ao discorrer sobre os efeitos da CPI na economia, Palocci repetiu o discurso de que não haverá instabilidade no mercado em razão das investigações da CPI dos Correios.