Título: Um remédio para crise política
Autor: Ana Maria Tahan e Leila Youssef
Fonte: Jornal do Brasil, 02/06/2005, País, p. A3

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, assume comando das articulações para evitar contaminação na economia Ministro da Fazenda, o médico Antonio Palocci está numa sinuca política. Preocupado com os solavancos na economia da desarticulação do governo Lula no Congresso vê-se empurrado pelas circunstâncias a integrar o esforço do Planalto pela recomposição da base governista. Os telefonemas e os contatos pessoais com parlamentares confusos com os desacertos dos líderes aliados na Câmara e no Senado têm-se intensificado. Da mesma forma, encaminham-se com mais assiduidade para outro ministério técnico, o Planejamento, comandado pelo deputado Paulo Bernardo. Pressionados, ambos não se furtam aos contatos, nem se cansam de pregar a urgência do entendimento políticos entre os aliados do governo. Mas se sentem incomodados, especialmente Palocci, até para evitar atritos com o chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, e com o responsável pela Coordenação Política, Aldo Rebelo. O que não o impediu, ontem, por exemplo, de negar eventuais malefícios da CPI para investigar denúncia de propina nos Correios no ambiente econômico.

- A CPI é decisão do Congresso, mas no passado mais de uma funcionou sem interromper os trabalhos. Os partidos têm de encontrar espaço para tocar a agenda. Deixar as reformas de lado não é bom para o país - alertou.

E foi além. Elegeu o que seria a série prioritária de projetos à espera de votação, como o de parcelamento dos débitos tributários de empresas em processo de recuperação, complemente essencial à Lei de Falências que entra em vigor dia 9. Aprovado no Senado, aguarda na fila de decisões da Câmara. Citou os avanços na negociação da reforma tributária e defendeu a necessidade de incluí-los nos debates parlamentares.

Palocci não tem como se furtar ao debate político. Na noite de terça-feira empregou argumentos e fatos da economia para derrubar a proposta de renúncia coletiva do ministério petista, apresentada pelo secretário de Comunicação, ministro Luiz Gushiken. Em defesa da tese, Gushiken lembrou ser necessário deixar o presidente Lula livre para atender interesses dos partidos aliados e contornar a crise política.

- É preciso cuidado. Estamos num momento econômico bem diferente de fevereiro de 2004, quando surgiram as denúncias contra o Waldomiro Diniz _ advertiu Palocci aos companheiros da Esplanada.

A referência tem razão de ser. Naquela época a economia ia bem, o risco Brasil estava em queda, a atividade industrial retomava fôlego. Hoje, com o Produto Interno Bruto estagnado, a renda do trabalhador em queda, o desemprego em alta, o dólar baixo, a hora é de cautela. Até porque, lembrou Palocci, a Fazenda confia na recuperação dos índices no segundo semestre com base numa estratégia. Os juros devem se manter altos, sem novas elevações, e o aperto fiscal será maior. A partir de outubro, o cofre federal voltará a se abrir e a atividade econômica irá recuperar o fôlego, pelo menos de acordo com o traçado pela Fazenda e pelo Planejamento.

O presidente Lula confia em Palocci e aplicou suas fichas na tática articulada por aquele de quem se diz ''unha e carne''. O bom êxito do plano, contudo, exige uma base política afinada e menos suscetível a crises. Daí Palocci compor, sim, apesar das negativas, o tripé da articulação política. Para quem já presidiu o PT paulista e duas vezes disputou e venceu a eleição para a prefeitura de Ribeirão Preto, não é tarefa difícil.