O Globo, n. 32795, 22/05/2023. Política, p. 5

“Lula é agressivo com o agro. Fica difícil ter bom relacionamento''

Entrevista: Pedro Lupion


Onde a CPI do MST chegará?

Nossos principais objetivos são investigar de onde vem o financiamento para invasões de terras produtivas pelo MST e qual é o apoio que esta organização recebe. Parece que tem gente do governo envolvida, e o MST mantém influência direta sobre o Executivo, inclusive nomeando cargos. Invasão de propriedade privada é crime e, se o governo financia isso, que assuma a sua responsabilidade.

A bancada ruralista fala em evidências de financiamento do governo nas invasões, mas não apresenta provas. O que dá esta certeza?

O envolvimento direto do MST com o governo é a principal evidência. Curiosamente, as invasões explodiram agora. Queremos saber de onde vem o dinheiro para custear os ônibus e as mobilizações do MST. São ONGs que financiam? Então vamos abrir as contas e mostrar. As feiras do MST, quem financia? O MST sequer tem CNPJ, não teria dinheiro para isso sozinho. O objetivo deles nunca foi a reforma agrária. É uma luta política.

O relator, Ricardo Salles, é ex-ministro de Jair Bolsonaro, investigado por crimes ambientais e já disse que o MST precisava ser “tratado a bala”. Isso não traz suspeição à CPI?

Ele é um deputado competente e tem todo direito de requerer o posto. Os integrantes de uma CPI são deputados com interesse no tema. Qualquer nome escolhido enfrentaria este questionamento. Salles tem capacidade técnica.

O endurecimento de penas para invasões de terras é uma pauta antiga da bancada ruralista e defendida por membros da CPI. A comissão será instrumento para que esta recomendação seja incluída no relatório final?

O objetivo da CPI não é investigar? Se ficar claro que as penas são brandas, o relatório conterá esta recomendação.

A bancada ruralista já enfrentou crises com o governo. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, deixou de ir a uma feira agropecuária pela presença do ex-presidente Jair Bolsonaro. Como está a interlocução depois desse episódio?

Foi uma falha de comunicação pontual e seguimos dialogando com o ministro Fávaro. Ele tem sido um grande interlocutor da bancada. Ele precisa da bancada, e precisamos dele também. As mensagens do vicepresidente Geraldo Alckmin e do Carlos Fávaro são ótimas.

Não há crise então?

Existem coisas que afetam mais o nosso relacionamento com o governo do que esse episódio. Posso citar o apoio do governo aos atos do MST e os ataques do Lula ao agronegócio. Infelizmente, temos de volta um Lula político de antigamente, que tem sido agressivo com o setor. Lula já chamou os ruralistas de fascistas e maus-caracteres. Isso nos afasta, fica difícil ter bom relacionamento. Quando ele se empolga no microfone, a relação fica desgastada. E, se Lula criar um muro com a bancada pela atuação da CPI, teremos a prova de que o governo corrobora com esse movimento e com essas invasões ilegais.

A bancada ruralista também tenta aprovar o marco temporal das terras indígenas, pauta contrária aos interesses do governo, e tenta fazer isso antes de o STF julgar uma ação sobre o tema. Não é um atropelo?

Pelo contrário. O STF só fará esse julgamento pelo fato de o Congresso não ter se posicionado ainda sobre o tema. O Legislativo precisa legislar antes do STF. Queremos, democraticamente, debater isso no plenário. Seria apenas um projeto que referenda a Constituição. É mais uma preocupação jurídica sobre o direito à propriedade.

“Um dos nossos objetivos é investigar de onde vem o financiamento para invasões de terras produtivas pelo MST”

O ministro Fávaro já disse que é necessário cuidado especial com o projeto de lei dos agrotóxicos, prioritário para a bancada ruralista. Considera necessário conversar com o Ministério do Meio Ambiente?

Não uso o termo agrotóxico. Prefiro chamar de pesticidas. Queremos aprovar produtos mais modernos, que deixem menos resíduos. Hoje temos um sistema de aprovação obsoleto. Nossos concorrentes usam produtos melhores, o que nos gera perda de competitividade. Pesticidas são os antibióticos das plantas e queremos o melhor para elas. Queremos debates maduros para fomentar a produção do país e evitar a queda de preços das commodities.