Título: Álcool fica mais competitivo no exterior
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 03/06/2005, Economia e Negócios, p. A23

Usineiros calculam que vendas da Petrobras para o mercado externo reduzirão em 50% custos de transporte do produto A entrada da Petrobras no mercado de álcool, como comercializadora, contribuirá para reduzir os custos de transporte da cadeia exportadora do produto, atualmente um dos maiores entraves para a competitividade do etanol produzido no Brasil. O diretor presidente da Sociedade Corretora do Álcool (SCA), Jacyr Costa Filho, calcula que os investimentos que a petroleira terá que fazer para escoar a produção a ser exportada para países como Venezuela, Japão e China reduzirão o custo logístico dos atuais US$ 40 por metro cúbico para algo em torno de US$ 20. Nos Estados Unidos, compara o executivo, esse custo limita-se a US$ 10 por metro cúbico. Por isso mesmo, afirma o executivo, a decisão da Petrobras foi bem recebida pelo setor sucro-alcooleiro, que trabalha com uma perspectiva de crescimento de 40 bilhões de litros do mercado mundial de álcool até 2015. A expectativa, segundo Jacyr, é de que a indústria brasileira, hoje responsável por 50% do mercado global, participe com uma fatia de 30% desse crescimento nos próximos dez anos. Atualmente, as usinas brasileiras produzem cerca de 17,5 bilhões de litros de álcool. Em 2015, estima o executivo, deverão chegar a uma produção de 30 bilhões de litros.

- A participação do Brasil se diluiria com a entrada de novos agentes no mercado, mas isso é benéfico, pois precisamos criar um mercado global. Hoje, com o Brasil na condição de principal produtor global, existe o temor de se ficar dependente de um único produtor. Ou seja, quanto mais agentes concorrerem nesse mercado, maiores as nossas possibilidades de conquistarmos novos clientes - justifica Jacyr.

Para viabilizar sua estratégia exportadora, a Petrobras deverá investir na construção de um alcoolduto para levar a produção das usinas do interior de São Paulo para o terminal da empresa da Ilha D'água, no Rio de Janeiro. Tais investimentos são necessários devido às exigências de importadores potenciais como o Japão, que só comprarão etanol sem contaminação de hidrocarbonetos. Por isso, a estatal não poderá embarcar álcool que tenha sido transportado por dutos já utilizados para a movimentação de outros combustíveis.

Atualmente, o álcool exportado por meio do Porto de Santos embute um custo de transporte que varia de US$ 35 a US$ 40. Nos portos da região Nordeste, por outro lado, o transporte responde por algo em torno de US$ 12. Mais alto, portanto, que o custo de transporte nos Estados Unidos, que produz álcool a partir de milho.

Com relação à Venezuela, que receberá em julho uma primeira carga de 25 mil metros cúbicos de álcool da Petrobras, o executivo da SCA estima um potencial de exportação de 100 mil metros cúbicos até o fim deste ano. Para isso, no entanto, adverte que a Petrobras precisa contratar, já a partir de agora, o produto a ser embarcado. O executivo participou ontem, no Rio, do 4º Seminário Brasileiro de Logística de Distribuição de Combustíveis, organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás Natural (IBP).