Título: Homossexuais cobram igualdade
Autor: Melissa Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 06/06/2005, Brasília, p. D6

O colorido das cores do arco-íris e muito brilho marcaram a 8ª Parada do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Transexuais e Simpatizantes (LGBTTS) de Brasília. Ao som de música eletrônica, cerca de 6 mil pessoas, de acordo com a Secretaria de Segurança, e 9 mil, segundo organizadores, reuniram-se em frente ao Congresso Nacional e seguiram quatro trios elétricos pela Esplanada dos Ministérios. O presidente do Grupo Estruturação e participante da comissão organizadora do evento, Welton Trindade, considera Brasília o lugar ideal para a manifestação deste ano que tem como tema Direitos Iguais - nem mais, nem menos!

- Estamos no centro do poder federal para reivindicar nossos direitos e denunciar a resistência a 15 projetos de lei, que reconhecem nossa cidadania, no legislativo federal. Também queremos criticar o preconceito do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti - afirmou Trindade.

Em cima do trio, a deputada distrital, Érika Kokay, considera que Brasília foi colorida ontem para mudar a história da discriminação que retira dos gays 37 direitos básicos, como a possibilidade de casamento.

- Essas pessoas têm muita coragem de lutarem pelos seus direitos. Como diz o tema da parada, eles só querem direitos iguais. Se isso não for dado, teremos uma regressão da democracia. Os projetos estão engavetados no Congresso devido ao preconceito, à homofobia - afirmou a deputada.

Entre beijos e abraços com o namorado, o estudante Paulo Roberto, 20 anos, disse não perder uma parada gay. Segundo ele, o movimento é um modo de mostrar que Brasília pode viver sem preconceito.

- A discriminação acontece em todo lugar, começando pela nossa família. Percebemos o preconceito em todos os tipos de diversidades. Mas nós sofremos mais discriminação que um bandido - lamenta o estudante.

A publicitária Ana Carolina Alves, 25 anos, é homossexual há dez anos e nunca contou para a mãe. A parada é um dos únicos lugares que ela se sente à vontade para ''ficar'' com outra mulher.

- Minha mãe é muito preconceituosa. Até quando vê beijo entre mulheres na TV, ela muda de canal. Acho que, no fundo, ela sabe que eu não gosto de homem. Tudo que eu queria era ter o apoio dela. Esse ano espero tomar coragem para contar para ela minha escolha sexual. Ainda sonho que ela aceite - diz Ana, com os olhos lacrimejando.

Durante o evento, a Secretaria de Saúde distribuiu preservativos e deu orientações sobre prevenção de doenças. Para a médica sanitarista Josenilda Gonçalves, gerente do programa de DST/Aids da Secretaria de Saúde, a parada constitui uma luta por cidadania.

- A manifestação dessas pessoas serve para mostrar à sociedade que é possível viver a diversidade. A secretaria está muito feliz por participar dessa luta orientando elas a serem mais feliz, sem doenças - afirmou Josenilda.

O presidente do Associação Brasiliense de Combate à Aids, Antônio Lisboa, explicou que, há alguns anos, as Aids era predominante entre homossexuais. Mas essa realidade mudou porque essas pessoas estão atentas à prevenção.

- Os homossexuais são pessoas abertas e sem preconceitos para receberem todas as informações. Já a maioria dos heterossexuais fecha os olhos para doenças como a Aids e, por isso, o número de contaminados pelo HIV aumenta a cada ano - afirmou Lisboa.