Título: Taiwan aumenta apostas no Brasil
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Jornal do Brasil, 06/06/2005, Economia, p. A19

Taiwan está apostando mais no Brasil para vender seus produtos. Em 2005, pelo segundo ano consecutivo, o governo de Taipei colocou a economia brasileira num grupo de países para os quais pretende aumentar suas exportações.

Esse esforço ajuda a explicar o crescimento de 52% das vendas da ilha asiática ao mercado brasileiro em 2004, para US$ 981 milhões. Em 2003, o valor havia caído 5,95%. As exportações brasileiras para Taiwan aumentaram 20,8% no ano passado, para US$ 832 milhões, sobre um aumento de 60% em 2003, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Além do comércio, há também empresários taiwaneses interessados em investir no Brasil, embora o foco da ilha continue sendo a China continental. Segundo o Escritório Comercial do Brasil em Taipei, quem busca informações sobre investimentos é em geral das áreas de informática e de celulares. Semana passada, uma empresa local informou ao governo que tem interesse em montar uma fábrica de celulares em território brasileiro.

Representantes da empresa disseram que iriam ao Brasil para tomar a decisão e o plano é começar a produzir no final de 2005.

- Eles são muito pragmáticos e rápidos nos negócios - diz Chateaubriand Neto, subdiretor do escritório.

Já há vários investimentos taiwanes no Brasil, como o da Proview, fabricante de monitores em Manaus, que começou a produzir também DVDs, e a Acer, também da área de tecnologia. Em geral, quem resolve aplicar dinheiro no mercado brasileiro já tem algum contato com o país. Segundo o escritório do governo brasileiro, tem-se buscado divulgar em Taiwan, em especial para profissionais da área de tecnologia, a mudança da regra para visto brasileiro permanente para investidor individual na área industrial.

Desde 2004, investindo-se US$ 50 mil ganha-se o visto. Antes eram necessários US$ 200 mil. Essa divulgação tem relação com o fato de que muito do progresso do país asiático em alta tecnologia nas últimas décadas deu-se com o empreendedorismo de profissionais da área, que com recursos próprios e/ou do governo montaram empresas com negócios expressivos.

O estado que aparenta estar mais adiantado na busca por investimentos taiwaneses é Minas Gerais, de acordo com o governo brasileiro. Minas, São Paulo e Sergipe estariam num grupo nos quais o país asiático quer tentar ajudar a incentivar a criação de um parque científico industrial, buscando atrair investidores de Taiwan.

Um dos motivos para o interesse atual dos taiwaneses no Brasil, além do tamanho do mercado e da estabilidade econômica, é o relatório do banco de investimentos Goldman Sachs sobre os chamados Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), segundo Hsin-hua Wu, subdiretor geral do Bureau de Comércio Exterior do Ministério da Economia de Taiwan.

O relatório, citado com freqüência na ilha pelo governo e empresários, foi divulgado no final de 2003 e diz, por exemplo que se tudo correr bem, em vinte anos os Brics terão juntos uma economia, em dólar, equivalente a metade da registrada por seis dos mais ricos países do mundo (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, Franca e Itália, o G-6).

Politicamente, a relação entre os dois países é praticamente inexistente. Apesar disso, Brasília e os empresários não ignoram Taiwan, que tem um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de US$ 280 bilhões - mais de 50% do PIB brasileiro - e uma população de 23 milhões de habitantes, cerca de 12% da população brasileira.

Outros motivos que contribuíram para o aumento do comércio são a alta nos preços das commodities e promoções organizadas pelo governo brasileiro no território taiwanês. Entre os principais produtos que o Brasil exporta para Taiwan estão minério de ferro, soja, celulose e granito.

Segundo Chateaubriand Neto, começam a entrar na pauta outros como própolis, biscoitos, roupas para ginástica e as sandálias Havaianas. O subdiretor do escritório comercial afirma que é preciso considerar que muitas compras entregues na China continental são na verdade para empresas de Taiwan. Da ilha asiática, o Brasil compra principalmente produtos de maior valor agregado, como eletrônicos e de informática.