Título: CPI denuncia influência
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/06/2005, Brasilia, p. D3

Hospital privado interferia nas decisões da Saúde

Foram seis horas de depoimentos no plenário da Câmara Legislativa ontem. Após ouvirem sete convocados, os integrantes da CPI da Saúde chegaram à conclusão de que havia influência da direção do Hospital Santa Juliana - suspeito de ter sido favorecido na transferência de pacientes da rede pública para UTIs particulares - nas decisões tomadas pela Secretaria de Saúde. Um dos depoentes, o inspetor da Vigilância Sanitária Duarte França de Moura, afirmou que o médico Alberto Madeiro Leite, parente dos diretores do Santa Juliana e então lotado no gabinete do ex-secretário Arnaldo Bernardino, ameaçou reclamar diretamente para o titular da pasta por conta das inúmeras cobranças da vigilância ao hospital.

Pouco depois, o chefe do núcleo de inspeção, Admilson Vargas - que assistia aos depoimentos e foi convocado na hora - contou que a irmã de Bernardino e diretora-financeira do hospital, Adaíza Alves de Moura, ameaçou transferir um servidor público do setor durante discussão na secretaria.

Os servidores da Vigilância Sanitária foram convocados para explicar como o Santa Juliana continuou funcionando mesmo sem contar com uma comissão de controle de infecção hospitalar. De acordo com o diretor do setor, Laércio Cardoso, a comissão chegou a ser constituída assim que o hospital foi criado, mas admitiu que ''ela não funcionava''.

Os inspetores responsáveis pela vistoria no local renovaram a licença em 2004, que expirou no final de abril deste ano. O Santa Juliana foi interditado apenas no dia 13 de maio, e uma das alegações foi justamente a falta de um controle eficiente nos testes de sensibilidade bacteriana.

- Percebemos que as irregularidades não serviram de base para interditar o hospital antes da CPI - avaliou a relatora Arlete Sampaio (PT).

Os distritais ouviram ainda outras quatro pessoas, dentre elas os diretores dos Hospitais Regionais de Taguatinga (HRT), Osmar Willian, e de Ceilândia (HRC), Jorge Pitanga.

Osmar garantiu que não havia orientação para favorecer qualquer hospital particular na transferência de pacientes. Mas ele e Pitanga não souberam explicar como atestaram notas do Santa Juliana sem o devido processo dos pacientes, e as aprovaram sem as glosas dos auditores da Secretaria. Pitanga, diante de uma nota de R$ 118 mil, confirmou que atestou o documento pois considerou ''irrelevante'' uma glosa de R$ 716.

Os distritais investigam ainda denúncias de que servidores do HRT, terceirizados por meio do Instituto Candango de Solidariedade, tenham sido transferidos para o Santa Juliana. Outra suspeita é de que o fiscal de obras da secretaria Luiz Roberto Rodovalho, fiscaliza reformas no HRT, tenha participação na empresa contratada para realizar as obras, promovendo assim um favorecimento direto. Osmar negou as acusações.