Título: Bill Clinton volta à cena
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2004, Internacional, p. A-7

Ex-presidente, contra a vontade da mulher, participará de ato eleitoral na Pensilvânia, estado-chave na corrida à Casa Branca

Na reta final da campanha, o democrata John Kerry receberá um apoio de peso. O ex-presidente Bill Clinton, que se recupera de uma operação de coração, visitará na próxima segunda-feira a Filadélfia, na Pensilvânia que, junto com a Flórida e Ohio, é um estado indeciso que envia muitos votos ao Colégio Eleitoral e deve decidir a eleição.

A ajuda de Clinton, cujo discurso foi um dos mais empolgantes da Convenção Democrata, em julho, pretende servir de ''empurrão'' para que Kerry consiga abrir vantagem nas pesquisas, atualmente empatadas ou com Bush liderando com pequena margem. Mas o ex-governante vem enfrentando resistência dentro de casa: a mulher, a senadora Hillary Clinton, manifestou preocupação.

- Hillary vem lutando contra isto, mas ele fará algumas participações. O ex-presidente realmente quer participar. Ele acompanha todos os detalhes da corrida presidencial, sabe mais até do que nós - contou um democrata sênior que atuou nas negociações.

Em campanha em Dayton, Ohio, o candidato mencionou Clinton em seu discurso, tirando proveito do carisma do ex-presidente, de 58 anos, entre os eleitores. Disse que tinham conversado pouco antes e que o veterano democrata o teria encorajado, num momento em que os ataques pessoais estão cada vez mais intensos.

- Estávamos falando sobre quando tentam nos incluir em estereótipos e transformar-nos em algo que não somos - disse Kerry. - Ele me respondeu: Tentam te fazer parar de pensar e te amedrontar para que isso aconteça. Mas você sabe que os americanos pensam sobre o futuro, é muito claro em quem as pessoas devem votar - completou, ovacionado pelo público.

Clinton passou as últimas seis semanas de repouso, afastado de qualquer ato eleitoral. Segundo Mike McCurry, alto consultor do senador democrata, espera-se que o ex-presidente esteja suficientemente recuperado para que possa visitar outros estados-chave até 2 de novembro.

Em 2000, o democrata Al Gore preferiu que Clinton não participasse da campanha, por acreditar que o escândalo com Monica Lewinsky poderia prejudicá-lo entre os conservadores, o que mais tarde foi considerado um erro de estratégia.

Do outro lado da disputa, divulgou-se ontem que George Bush poderá contar com o apoio do governador republicano da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, no próximo final de semana, em Ohio. O ''Exterminador'' até então manteve-se afastado da campanha, tendo participado apenas na Convenção Republicana, em setembro. Segundo especialistas, Schwarzenegger teme afetar sua imagem entre os eleitores da Califórnia, estado tradicionalmente democrata e onde a maior parte dos republicanos é moderada.

Outra que vem participando de atos em favor de Bush é a assessora para Segurança Nacional, Condoleezza Rice, o que gerou críticas de democratas. Recentemente, Rice visitou e fez discurso em vários estados indecisos, incluídos Oregon, Washington, Carolina do Norte e Ohio. E tem previsto passar por Pensilvânia, Michigan e Flórida nos próximos dias.

A frequência e o tom de seus discursos diferem completamente dos que costumava fazer antes do ano eleitoral e parecem quebrar com a tradição de não envolvimento de assessores de segurança nacional em campanhas presidenciais.

- Estou surpreso, porque é uma pessoa séria. Não deveria usar seu tempo para fazer campanha. Isso, a meu entender, é uma politização excessiva de seu cargo - afirmou ontem Zbigniew Brzezinski, que ocupou o mesmo posto durante o governo de Jimmy Carter.

Até então, dois terços dos 68 discursos que Rice tinha feito foram em Washington, e nenhum deles pronunciado em estados indecisos até o mês de maio deste ano.

Em campanha no Iowa, Bush e Kerry voltaram a trocar acusações sobre a capacidade do adversário de comandar a guerra ao terror:

- Bush gosta de dizer que é um líder - disse o democrata. - Sr. presidente, olhe atrás de você. Não há ninguém. Não é liderança se ninguém o segue.

Bush contra-atacou dizendo que o rival tem uma compreensão fundamentalmente errada da guerra ao terror.

Em mais uma declaração polêmica, Teresa Kerry, mulher do democrata, questionou se a primeira-dama Laura Bush já havia tido ''um emprego de verdade''. Mais tarde, se desculpou após reações de membros da campanha de Bush.

- O infeliz comentário tem o objetivo de dividir as mulheres - disse Karen Hughes, assessora do presidente.