Título: A cidade que trocou cinco vezes de prefeito
Autor: Paulo Celso Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 05/06/2005, País, p. A2

Em plena quarta-feira, ao meio-dia, a porta da prefeitura de Vassouras está fechada. No batente, um ofício explica que o prefeito Altair Paulino (PMDB) foi empossado na manhã anterior e decretou quatro dias de despachos internos. Desde dezembro, é o quinto diploma de prefeito entregue na cidade. Enquanto os dois primeiros colocados se alternam no cargo, a população, desiludida, reclama do abandono e do vácuo de poder.

- O voto não tem mais valor. Estava doente e fui votar, porque gosto de participar. Agora, vejo que é para proteger essa bagunça aí. Político antigamente era respeitado, isso acabou - reclama o aposentado Antônio de Fazio, de 77 anos.

Na última semana, além de Vassouras, Paracambi também mudou de prefeito. Oito meses depois das eleições municipais, nove cidades do estado do Rio ainda estão sem saber quem será seu governante nos próximos três anos e meio. As acusações pouco mudam: abuso de poder econômico ou político, compra de votos e uso da máquina pública.

Com 33 mil habitantes e 552km2 de área, Vassouras vive um impasse político desde a reeleição de Altair, que venceu o candidato Eurico Júnior (PV) por apenas 172 votos de diferença. Com quase 80% da população votante (26 mil), as eleições transcorreram com uma série de acusações de uso da máquina e de compra de votos. Até agora, o TRE condenou Altair, que governa sob liminar, por construção de casas populares e asfaltamento de ruas no período eleitoral. Denúncias que são confirmadas por moradores do bairro Ipiranga, onde 23 esqueletos de casas são os símbolos de uma eleição que não terminou.

A dona de casa Sueli Maria da Silva, de 34 anos, mora em um sítio ao lado do terreno onde foram erguidas as casas:

- As casas começaram a ser construídas junto com os comícios. Passaram as eleições, as obras pararam. Agora tá a maior confusão, toda hora muda de prefeito e as casas ficaram aí.

Apesar de novo, o asfalto colocado em Ipiranga durante as eleições já está cedendo. Manoel João, de 71 anos, que mora há 10 no bairro Demétrio Ribeiro, explica o porquê:

- Nos dias antes das eleições, eles trabalharam a noite inteira. Aí o pessoal começou a votar mais no Altair. O povo ainda é bobo, inclusive eu - ironiza.

As irregularidades de Vassouras se repetem pelo país, afetando geralmente os bairros mais afastados do centro, onde a fiscalização é precária e o povo, mais necessitado.

- Eleitoreiras ou não, foi o Altair quem fez o asfalto e a iluminação que o povo pede há 50 nos - opina Alceu Gropen, de 51 anos, morador do bairro Itakamosi.

Na quarta-feira, um dia após Altair ser empossado, a cidade estava sem poder. O prefeito passou o dia fora da cidade. Seu opositor, Eurico, estava em Paty do Alferes, onde mora.

Apesar de ser acusado de vários crimes eleitorais, o prefeito Altair diz que as decisões ferem à democracia:

- Fico muito triste com essa disputa, porque além de trazer prejuízo para a cidade, deixa dúvidas quanto à democracia. Não interessa a diferença de votos, isso não é um jogo de futebol.

Eurico retruca e diz que a população está surpresa:

- Ninguém conhecia esse lado dele. Conheciam o médico que seria incapaz de cometer um abuso desse para ganhar o poder.

Para o garçom Júlio César Lima, de 22 anos, que passava em frente à prefeitura fechada, a cidade está desgovernada.

- Estamos há 6 meses sem prefeito porque nenhum assume as contas da cidade - lamenta Júlio César.

Movimentado pela Universidade Severino Sombra, o Centro é o local onde se concentram as críticas. Vinda de Juiz de Fora há cinco anos, a estudante de fisioterapia Rachel Lombelo, de 26 anos, está impressionada.

- Quando cheguei era diferente. Hoje, a cidade não anda. Os prefeitos só estão preocupados com o dinheiro - conclui.