Título: Arde a fogueira de vaidades tucana
Autor: Sérgio Pardellas e Tina Vieira
Fonte: Jornal do Brasil, 05/06/2005, País, p. A4

A cinco meses da escolha do candidato do PSDB para a corrida presidencial de 2006, os tucanos desferem bicadas uns nos outros para decidir quem vai enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na urnas. Por isso, o maior temor da cúpula do partido é que o PSDB chegue às urnas em 2006 dividido como em 2002. Na ocasião, Tasso Jereissati tinha a pretensão de concorrer. Foi preterido por José Serra, acabou aderindo à candidatura de Ciro Gomes (PPS-CE) e só voltou ao ninho no 2º turno.

A última pesquisa Datafolha aponta que o presidente Lula teria que disputar o segundo turno, caso o candidato tucano fosse José Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ou o governador Geraldo Alckmin.

Um dos focos de crise é o prefeito de São Paulo, José Serra, o candidato do PSDB mais bem colocado na pesquisa. O ex-ministro da Saúde dá sinais concretos de que não desistiu do projeto de vencer Lula.

No mês passado, durante a definição do espaço dos principais nomes tucanos nos programas estaduais de rádio e TV do PSDB, o prefeito exigiu igualdade de condições em relação a Alckmin.

Serra entrou na contramão da idéia original do partido que era aproveitar os programas regionais para tornar Alckmin um nome nacional. Em alguns estados, o governador seria a estrela principal. Serra bateu o pé e conseguiu o mesmo destaque.

O episódio deu a exata dimensão da divisão do partido. Até o diplomático Fernando Henrique Cardoso não se conteve. Aos colegas de partido, ele disse que Serra já teria atingido o seu ápice eleitoral na eleição de 2002. O ex-presidente é um dos maiores defensores da tese de que é preciso colocar Alckmin logo nas ruas para sentir a reação do eleitorado.

Outro tucano que não gostou de ser escanteado na definição dos programas regionais foi o senador Tasso Jereissati. Além de também aparecer na lista de presidenciáveis do partido, Tasso nutre o projeto de voltar a presidir a sigla. Depois de manifestar sua contrariedade, o ex-governador do Ceará conseguiu alguns minutos na propaganda.

- Alckmin, Aécio e Tasso são menos conhecidos nacionalmente do que Serra. Por isso deveriam ter uma exposição maior - afirma um parlamentar tucano ligado ao governador de Minas Gerais.

Para tentar resolver a divisão partidária, o PSDB encomendou uma pesquisa de opinião. Até este levantamento, feito pelo Instituto de Pesquisas Ipsos Opinion, serve de combustível para a fogueira de vaidades tucana. Na pesquisa, Serra aparece como o candidato mais forte para derrotar Lula, caso a eleição fosse hoje. Já Alckmin e Aécio são os candidatos com maior potencial de crescimento até o pleito.

As eleições municipais consolidaram o PSDB como o maior partido de oposição do país. Os resultados, contudo, não foram capazes de produzir a unidade do partido. O PSDB sucumbiu ao primeiro teste de fogo após as eleições.

A primeira reunião da Executiva, logo após as eleições municipais, evidenciou antigas fissuras ao colocar em lados opostos Serra, que na época presidia o PSDB, e Tasso, na disputa pela sucessão interna. Um acordo estabelecia que Serra cederia o lugar ao então vice-presidente do partido e senador Eduardo Azeredo (MG), o que acabou ocorrendo.

Mas a hipótese de a troca no comando vir a fortalecer o PSDB de Minas fez Serra avaliar a possibilidade de acumular as duas funções até novembro de 2005, quando encerraria o mandato.

Sabendo da articulação do prefeito de São Paulo, Tasso e Aécio sequer compareceram à reunião. Enquanto o encontro transcorria na sede do partido, Aécio capitaneava uma reunião no gabinete de Tasso. Oficialmente para ''mobilizar a bancada para as votações''.

A pressão dos mineiros teria contado com a ajuda do ex-presidente Fernando Henrique que usou de sua influência e prestígio no PSDB para fazer prevalecer o acordo inicialmente firmado.