Título: PF vai reconvocar Lídio Duarte
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Fonte: Jornal do Brasil, 04/06/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - A Polícia Federal deve reconvocar o ex-presidente do Instituto Resseguros Brasil (IRB) Lídio Duarte para depor sobre um suposto esquema de pagamento de mesada de R$ 400 mil para o PTB. A decisão vai se basear na gravação da revista Veja em que o ex-funcionário revela a existência do esquema que depois negou. A PF deve também requisitar à revista a fita da conversa.

- É assim, a história é a seguinte: dizem que o partido tem de ter os lances com os diretórios, com as festas, os jantares, com não sei quê, cada indicado tem que botar lá R$ 400 mil por mês - diz Duarte, segundo a revista, que gravou a conversa.

Com o novo desenrolar da situação, a cúpula do governo, que avaliava até ontem de manhã que a crise política começara a esfriar com a definição de uma estratégia para matar a CPI dos Correios no Congresso, voltou a ficar pessimista.

Em fitas divulgadas ontem no site da revista na internet, Duarte conta que o deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, costuma reunir todos os seus indicados em jantares na sua casa, em Brasília, para falar sobre contribuições.

Duarte reproduziu como seriam os diálogos: ''Pô, como é que é isso, e tal. Fulano tá pressionando. A gente está com a espada sobre a cabeça e tal, e nada acontece'. Pô, é um negócio constrangedor, cara''.

Na conversa, Duarte conta que a cobrança da mesada era feita por Henrique Brandão, dono da corretora Assurê, do Rio de Janeiro, doador de campanha eleitoral de uma filha de Roberto Jefferson. Segundo Duarte, Brandão tratava do assunto no IRB ''diretamente''.

A Assurê foi indicada pelas empresas Infraero, Eletronuclear e Furnas para intermediar operações de resseguro com o IRB. O PTB tem ascendência política sobre as três companhias estatais. Segundo Duarte, o corretor foi ''colocado'' para dialogar com ele pelo próprio Jefferson. A partir de determinado momento, as relações com Brandão teriam se deteriorado. Duarte foi então reclamar com Jefferson, que teria defendido o corretor.

''Quando tentei falar com ele sobre os problemas que o intermediário estava me criando, ele deu aquela 'Eu conheço o Fulano há 30 anos'. Aí fui saber, o Fulano empregava o genro (de Jefferson), bancava um monte de coisas, quer dizer, é a pessoa que opera pra ele, né?''.

Em outro trecho divulgado ontem, Duarte conta que o deputado também tentava interferir em ações judiciais relativas ao IRB. ''Ações judiciais em curso. 'Ah, vamos fazer acordo, e tal'. Fazer acordo? Administração pública só pode fazer acordo em juízo. E mais, não pode renunciar a ir à última instância se não tiver uma certeza de que o caso está perdido'', disse Duarte à revista.

Em depoimento à PF, Duarte negou o conteúdo da reportagem. Segundo havia divulgado a Veja, ele disse a um graduado funcionário público que enfrentava problemas no IRB por se negar a produzir a mesada para o PTB. Duarte depôs como testemunha, condição que o obrigava a dizer a verdade, sob pena de responder por suposto crime de falso testemunho.