Título: Planalto abre o cofre e oposição reage
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 04/06/2005, País, p. A3

BRASÍLIA - A sinalização do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para a possível liberação de R$ 400 milhões em emendas parlamentares até o fim do mês - peça essencial ao esforço de sepultar a CPI dos Correios - provocou um alvoroço na oposição, mas não comoveu governistas. Tucanos e pefelistas cobraram a saída de Palocci da operação-abafa da investigação. Aliados reclamaram que o valor não representa nem 20% das emendas individuais. No Senado, a oposição aproveitou para fazer barulho. Vice-presidente do PFL, o senador José Jorge (PE), avisou que vai apresentar um requerimento de convocação do ministro pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), para explicar as denúncias de liberação de emendas em troca de votos na CPI.

- É um absurdo nunca visto antes no Brasil. Lamento que o ministro, responsável por nossa economia, que precisa ter o respeito de todos os brasileiros, esteja entrando, por assim dizer, no mundo cão da compra de votos de deputados - incitou José Jorge.

A reação do líder do governo na Câmara, Arlindo Chingblia não se fez esperar.

- A oposição sempre vai achar que liberação de emendas tem relação com a CPI. Vamos ter de escolher: ou pagamos o preço das críticas ou corremos o risco de sofrer uma nova derrota no Congresso, agora ou mais tarde.

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse que é ''normal'', ''natural'' e uma ''obrigação'' do governo liberar emendas de parlamentares. Ele disse que o fato de as liberações ocorrerem no momento em que a gestão Lula tenta abafar a CPI dos Correios acontece porque o governo descobriu só agora que tem dinheiro em caixa.

- Não vejo nisso nenhuma troca, permuta, absolutamente - disse Severino após tomar café da manhã em sua casa com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Na reunião de quinta com os aliados, Palocci prometeu seguir o mesmo ritmo de empenhos dos anos anteriores - cerca de R$ 400 milhões até o fim do primeiro semestre. De acordo com participantes da reunião, o montante refere-se às emendas individuais apresentadas ao Orçamento de 2005. Não teria relação com os restos a pagar dos anos anteriores. Pelos cálculos da relação emendas/parlamentares aliados, daria aproximadamente R$ 1,5 milhão por deputado ou senador.

- Cada um de nós tem direito a R$ 3,5 milhões. Isso não representa nem a metade do que nos devem - reclamou o líder do PP na Câmara, José Janene (PR).

Janene afirmou que, se o governo espera que as promessas de verba sejam suficientes para impedir a CPI, pode considerar o caso perdido. Lembrou que durante o governo Fernando Henrique, os líderes do PSDB, em momentos de crise, conseguiam liberar logo os recursos, por ordem do próprio presidente ao ao Tesouro.