Título: Acorda Brasil
Autor: Antônio Ermírio de Moraes
Fonte: Jornal do Brasil, 05/06/2005, Outras Opiniões, p. A11

Por mais que se lute, ninguém consegue revogar uma lei muito simples: o emprego de amanhã resulta do investimento de hoje.

O Brasil está convivendo com taxas altíssimas de desemprego. Para o país, o IBGE nos diz que cerca de 11% dos brasileiros em idade ativa estão sem trabalho. Para São Paulo, o Seade apresenta números de 17%.

Embora as metodologias difiram, o fato concreto é que o problema é sério para a maioria das pessoas, pois ao desemprego soma-se uma informalidade de 60%.

Por outro lado, a imprensa noticia diariamente que o dólar não pára de cair devido à grande afluência de capitais externos. Isso é uma verdade. É pena que esses capitais, em sua maioria, vêm para o Brasil para usufruir das mais altas taxas de juros do mundo, que são pagas em dia, e contam com a garantia do governo federal.

Tais recursos não vão para a produção e não geram os empregos que os brasileiros necessitam. Nos três primeiros meses de 2005, os investimentos estrangeiros destinados ao setor produtivo, não passaram de US$ 3 bilhões. A maioria dos recursos vai para as generosas aplicações financeiras.

Desse jogo, participam também os capitais nacionais. Com tamanha facilidade para ganhar dinheiro em títulos públicos, são poucos os que se dispõem a montar um negócio produtivo, contratar empregados e pagar impostos.

Mais grave, o IBGE acaba de revelar que os investimentos no primeiro trimestre de 2005 caíram 3% em relação ao trimestre anterior. Esse é o dado mais grave da pesquisa do IBGE.

Ao mesmo tempo, a arrecadação de impostos e o superávit primário bateram todos os recordes. Ocorre que ao lado desses recordes, há uma drástica queda dos investimentos públicos, incluindo os programas sociais e o de infra-estrutura. Dados divulgados pela imprensa dizem, por exemplo, que o Ministério da Saúde gastou apenas 1% do que dispõem no orçamento de 2005. No saneamento ambiental, de um total de R$ 717 milhões de gastos autorizados, apenas 0,11% havia sido pago até 20 de maio último. O Ministério do Transporte gastou só 1,35% do limite autorizado. No programa de recuperação das rodovias, que conta com quase R$ 2 bilhões, foram aplicados tão somente 0,06% (Folha, ''Falta de verba paralisa programas federais'', 31/05).

Sem investimentos privados e públicos não haverá crescimento e emprego. No primeiro trimestre de 2005, o PIB cresceu apenas 0,3% em relação ao quarto trimestre de 2004. A indústria e os serviços apresentaram taxas negativas de -1% e -0,2%, respectivamente. O único setor que avançou foi o da agropecuária (2,6%) e que, no fundo, proporcionou o aumento positivo do PIB. Sem a agropecuária, recuamos e muito. Se o quadro não mudar, o crescimento em 2005 será bem inferior a 2004.

Por que não se investe mais na produção brasileira? A resposta já foi dada: porque aplicar em papéis do governo dá mais dinheiro do que tocar uma fábrica ou uma atividade agrícola. Em outras palavras, a elevação dos juros nos dias de hoje é a morte dos empregos amanhã. Até quando vamos ficar nessa armadilha?