Título: EUA admitem profanação do Corão
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 05/06/2005, Internacional, p. A13

Um guarda americano de Guantánamo urinou ''acidentalmente'' no livro sagrado dos muçulmanos

WASHINGTON - Depois de uma investigação de três semanas - realizada pelo comandante da prisão militar dos Estados Unidos na base de Guantánamo (Cuba), o brigadeiro-general Jay Hood - o Pentágono reconheceu a ocorrência de cinco incidentes de profanação do Corão por parte de militares americanos. Alguns dos casos haviam sido denunciados - e posteriormente retificados - pela revista Newsweek e provocaram a ira no mundo muçulmano.

Segundo a estudo, que analisou 30 mil registros de detenção, dois americanos chutaram um exemplar do Corão e outros jogaram o livro sagrado islâmico na água e no vaso sanitário. Um guarda inclusive urinou ''acidentalmente'' na obra.

Este último incidente aconteceu em março, quando um guarda deixou seu posto de observação para urinar, perto de um respiradouro. ''O vento levou sua urina através da abertura para dentro do bloco de celas'', detalha o documento. Um detido contou que a urina ''atingiu a ele e ao seu Corão''. Segundo o registro em Guantánamo, o muçulmano recebeu um novo uniforme de prisioneiro e um novo livro. Já o guarda foi repreendido e encarregado de trabalho em que não tinha contato com os prisioneiros. O capitão John Adams, porta-voz da base naval americana, afirmou que o inquérito considerou a ocorrência um ''acidente''.

Em outro caso polêmico, informou-se que um civil que trabalhava como interrogador pediu desculpas a um detido em julho de 2003 por ter pisado no Corão dele. O interrogador, que fazia serviço terceirizado, ''foi afastado posteriormente devido a comportamento inaceitável, à incapacidade de seguir orientação clara e à falta de liderança''.

Em agosto de 2003, dois detentos se queixaram de que seus exemplares do livro sagrado ficaram molhados durante uma troca de guarda noturna, quando foram jogados balões de água. No mesmo mês, um prisioneiro reclamou que palavras obscenas em inglês haviam sido escritas no lado interno da capa de seu Corão.

''Nós definimos profanação como tocar, segurar ou tratar o Corão de maneira inconsistente com o procedimento. Confirmamos cinco dos incidentes de profanações aconteceram'', escreveu Hood.

Segundo a investigação dos EUA, também os presos fazem ''mau manejo'' da obra, que a tradição diz ter sido ditada por Deus ao profeta Maomé. Foram registrados seis casos em que detentos rasgaram o livro e três de que urinaram sobre ele. Outros três teriam jogado o Corão no vaso sanitário e mais três, nas celas. Um homem usou a Escritura como travesseiro.

Os EUA mantêm cerca de 520 detidos em Guantánamo, todos classificados como ''combatentes inimigos'', sem os direitos de prisioneiros de guerra estabelecido pelas Convenção de Genebra. Recentemente, a Anistia Internacional classificou a prisão de o ''gulag do nossos tempos'', referindo-se a campo de concentração na ex-União Soviética.