Título: Via-crúcis pelos postos do INSS
Autor: Milena Khoury e Ricardo
Fonte: Jornal do Brasil, 04/06/2005, País, p. A5

RIO E BRASÍLIA - O técnico de contabilidade Mauro de Souza, 42 anos, gastou R$ 5,40 em passagens de ônibus até às 11 horas de ontem na tentativa de tirar uma Certidão Negativa de Débito (CND) nos postos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Na Avenida Almirante Barroso, ele mostrou-se vencido pelo cansaço depois de peregrinar por mais de três horas de Copacabana até o Centro do Rio, passando antes por Botafogo e Laranjeiras. Ao ser informado que a agência da Previdência Social de Irajá, na Zona Norte, estaria aberta, o contador desabafou: - Não vou, não. Vou esperar essa greve acabar, caso contrário vou perder uma fortuna deslocando-me pela cidade.

Mauro saiu de casa, no Catete, em direção à Copacabana por volta das 8h. Ao constatar que o posto estava fechado, pegou outro ônibus para Botafogo: novamente as portas cerradas o impediram de tirar a certidão para uma auto-escola. De lá, foi a pé até Laranjeiras para economizar. Nada feito: pegou o terceiro ônibus até o Centro, onde desistiu da peregrinação.

Mauro de Souza é um dos prejudicados com a greve dos servidores da Previdência decretada por tempo indeterminado. A categoria integra o movimento do funcionalismo público já conseguiu a adesão de 40 mil servidores. Pelo menos é o que afirma o comando da greve. Até o final da tarde de ontem, o Ministério do Planejamento não havia sinalizado com uma proposta para pôr fim à greve. Diante do impasse, a direção da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Seguridade Social (CNTSS) e da Federação Nacional dos Trabalhadores da Saúde e Previdência Social (Fenasps) enviou ofício para os presidentes da Câmara, Severino Cavalcanti, e do Senado, Renan Calheiros, para pedir a ajuda do Legislativo na busca de uma solução.

Representantes da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef) foram atendidos pelo secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, ontem, para uma reunião. A principal reivindicação dos servidores é um aumento emergencial de 18%.

De acordo com a diretora de finanças do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social (Sindisprev) do Rio, Janeiro da Rosa, a greve atingiu 90% de adesão na capital do Rio de Janeiro e 80% no interior do estado. Para o superintendente do INSS no Rio, André Ilha, os números são diferentes: a procura pelos serviços diminuíram de 40% a 50% e a paralisação atingiu apenas 60% dos postos na capital.