Título: Governo tenta parar protesto
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2004, Internacional, p. A-9

Reforço policial é enviado para agir contra cocaleros que ocuparam hidrelétrica

O governo do Peru enviou reforço policial ontem para expulsar centenas de agricultores que invadiram uma usina hidrelétrica em um protesto contra uma operação de erradicação de plantações de coca. Três pessoas morreram durante a invasão.

- Os reforços está chegando... não posso dizer quantos virão - disse o vice-ministro do Interior Richard Diaz.

Os agricultores ocuparam na terça-feira a usina de San Gaban, na região de Puno, no Sul do país e próximo à Bolívia. Segundo o governo, 800 agricultores participam da operação, que a polícia tentou conter com tiros.

Uma autoridade do governo regional disse que, um dia depois, os camponeses permaneciam no local, mas o prefeito de San Gaban, Alfredo Huamantica, afirmou que os manifestantes já tinham encerrado o protesto.

O governo peruano declarou estado de emergência por 30 dias, colocando a área sob controle da polícia.

Os camponeses protestam contra a destruição de suas lavouras e de 10 laboratórios clandestinos de drogas, afirmaram as autoridades. O Peru é o segundo maior produtor mundial de cocaína, atrás apenas da Colômbia.

O episódio foi mais um a abalar a instável região andina. No mês passado, cultivadores de coca na capital turística do Peru, Cuzco, fizeram 20 turistas estrangeiros como reféns num templo inca. Na Bolívia, agricultores bloquearam estradas para protestar contra a operação anticoca.

Com financiamento americano, a erradicação das plantações de coca se tornou uma das maiores prioridades do governo peruano nos últimos anos, numa tentativa de conter o fornecimento da droga aos EUA e à Europa.

Segundo Huamantica, o governo provocou o protesto, pois não compareceu às negociações com agricultores, conforme havia prometido.

- Os ânimos se acalmaram, eles aguardam a retomada do diálogo - afirmou à rádio local CPN.

Os agricultores alegam que a folha de coca é um medicamento natural tradicional quando mascada, e que apenas metade da produção do país vai para a fabricação de cocaína. No entanto, para o governo essa proporção é de 90%.