Título: O espetáculo do crescimento
Autor: Paulo César de Souza
Fonte: Jornal do Brasil, 04/06/2005, Opinião, p. A11
O PIB brasileiro de R$ l, 769 trilhão posiciona o país no 12° lugar no ranking das economias mundiais, porém somos o 39° em renda per capita, posição bem desfavorável em relação a 1988 quando o Brasil se posicionou como a oitava economia do mundo.
A pergunta é: o governo atual melhorou a vida dos brasileiros, cumpriu suas promessas de campanha? Claro que não.
O leitor então me diria: como explicar que as pesquisas demonstram um índice de aceitação do presidente de 62%? No entanto, não vêem que o indice de reprovação, regular, ruim e péssimo do governo juntos somam os mesmos 62%. Como pode ser? Bem, aí é que esta a competência do presidente. Enquanto se critica e fala-se mal da previdência (PMDB) do Banco Central (PSDB), o presidente viaja no ''aerolula'' no país e para o exterior, escuda-se no populismo barato, participa de feira de gado e festa da uva, de sua base no Planalto lança falsos programas, inaugura novas instalações de empresas privadas, faz discurseira. Com bordões e chavões, para platéia de agricultores, sindicalistas, beija velhinhos e crianças, vai a velório, aniversário, nascimento de neto, reforma seu palácio, usa ternos, sapatos e gravatas de marca, joga futebol, fuma charutos cubanos, faz churrasco na Granja do Torto, dispara metáforas e pede à população paciência. Portanto, fica longe das promessas ou bravatas como já as rotulou.
O espetáculo do crescimento se transformou numa desilusão.
Não há uma grande obra. Não há um projeto de país. Há uma nítida sensação que o PT não tinha um sonho de governo.
A carga tributaria brasileira segue sendo a maior do mundo, 35%; a taxa de juros, de 18%, é o maior do mundo, fazendo a festa do capital especulativo; o desemprego brasileiro é de 22%, o maior do mundo.
Mas nem tudo é desilusão.
Na previdência social, três ministros em três anos. Uma reforma, depois de outra, para reduzir o déficit, que só cresceu e vai chegar aos R$ 100 bilhões no período 2003/2005.
A previdência é o órgão do governo mais em evidência, primeiro pelo suposto déficit, segundo pelo número de segurados (30 milhões) e o número de beneficiários (23 milhões) e terceiro por ser a maior seguradora do mundo e maior distribuidora de renda.
Seu problema é má gestão. Ela já resistiu a 21 CPIs e a saques de R$ 1,5 trilhão (US$ 500 bilhões).
Tínhamos um sonho, mas o sonho, como querem alguns, não acabou, de um Brasil melhor. Agora temos 175 milhões torcendo e sonhando para que o pesadelo tenha fim e a gente volte a sonhar.
Paulo César de Souza é vice presidente da Associação Nacional dos Servidores da Previdência Social-ANASPS.