Título: Ministério entra na negociação
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 04/06/2005, Cidade, p. A13

Greve de servidores atinge praticamente todos os hospitais da Região Metropolitana. Médicos cobtam mudança de regime

Depois de uma semana de agravamento da crise na rede estadual de saúde - em que hospitais chegaram a funcionar sem um médico sequer - o Ministério da Saúde resolveu intervir. Nos próximos dias, representantes do governo federal vão se reunir com o secretário estadual de Saúde, Gilson Cantarino, para fazer um diagnóstico completo dos problemas de cada um dos hospitais da rede. O ministério se colocou à disposição do governo estadual para resolver o impasse com os cooperativados. A Secretaria Estadual de Saúde admite que a ajuda federal é necessária. De acordo com a subsecretária Alcione Athayde, o encontro definirá um programa conjunto entre as duas esferas para evitar a sobrecarga dos hospitais estaduais.

- O ministério pode ajudar, porque a crise é gerada na rede de atenção básica da saúde, de competência do município. A melhoria da rede básica vai refletir imediatamente na rede estadual - disse Alcione.

As comissões de Saúde da Alerj , da Câmara Municipal e o Conselho Estadual de Saúde propõem outra solução possível: a convocação do banco de profissionais não chamados no concurso de 2001. Dos 34 mil aprovados, cerca de 26 mil aguardam a convocação.

- Não é verdade que não haja outra opção. Que seja feito como o governo federal fez durante a intervenção na rede municipal, realizando contratos temporários - propôs o deputado Paulo Pinheiro (PT), presidente da comissão de saúde da Alerj.

Em reunião ontem, os integrantes do Conselho Estadual de Saúde decidiram condenar a secretaria - o presidente da comissão é o próprio secretário - e todas as formas de terceirização exercidas por ela. O conselho determinou que seja feito um contrato emergencial de profissionais, por seis meses, com todos os direitos trabalhistas, até que o novo concurso seja elaborado. Além disso, foi criada uma mesa de negociação, para discutir a precarização das unidades.

- A crise distorce as competências dos médicos. Não pode ter anestesista fazendo cirurgia. A crise está violentando preceitos éticos da profissão - argumentou o presidente do Sindicato dos Médicos e integrante do conselho, Jorge Darze.

No segundo dia de paralisação, de acordo com a secretaria, os hospitais atenderam cerca de 40% do volume normal do setor de emergência. Não houve paralisação nos hospitais e institutos especializados, e quatro hospitais não teriam sido atingidos pela greve: o Azevedo Lima, em Niterói, o João Batista Cáffaro, em Itaboraí, o Regional de Araruama, na Região dos Lagos, e o Alberto Torres, em São Gonçalo.

No entanto, o Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência Social (Sindsprev/RJ) desmentiu as informações. Segundo a diretora do sindicato, Clara Fonseca, a situação só está piorando - cerca de 6.500 pessoas teriam ficado sem atendimento ontem, em toda a rede. O Alberto Torres foi o hospital que registrou a maior adesão: quase 100%.

- Em São Gonçalo, todos os funcionários do hospital são prestadores de serviço - explicou.

A médica trabalha no Hospital Rocha Faria e contou que ontem cerca de 100 atendimentos foram feitos na emergência, quando o normal é de pelo menos 300.

Em Duque de Caxias, no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, a professora Ana Paula Silva Bernardino reclamava que seu pai, o funcionário da Reduc Wagner Silva Bernardino, de 57 anos, tinha morrido durante a manhã por falta de médicos.