Título: Funcionário leva gravação para CPI
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 04/06/2005, Brasília, p. D3

Ex-presidente da Comissão de Licitações de Secretaria diz que áudio traz declarações comprometedoras de deputada Os integrantes da CPI da Educação começarão a avaliar na semana que vem o conteúdo de sete horas de gravação feita por Antônio Ferreira César, ex-presidente da Comissão Permanente de Licitação (CPL) da Secretaria de Educação. Sua expectativa é de que no áudio estejam registradas declarações comprometedoras da deputada Eurides Brito (PMDB) e da consultora jurídica do GDF Maristela Neves, ambas ex-secretárias, além de funcionários da pasta e membros do governo. Apesar de não constar na lista de depoentes na sessão de ontem, Antônio pediu aos distritais para ser ouvido e expôs uma parte das fitas - apenas 4% - na qual aparece uma voz, apontada como a de Maristela, articulando depoimentos. As gravações começaram a ser feitas pouco antes de 6 de maio, data marcada para Antônio depor. Ele alegou ''motivos de saúde'' e não compareceu no dia. Em um dos trechos apresentados ontem, Maristela estaria estabelecendo que Eurides deveria ser protegida - ''não podemos deixar que a deputada corra nenhum risco, porque as ações na justiça vão demorar 10, 20 anos. Isso para ela é fulminante (...) Nossa defesa é dar sustentação a ela (...) Tem gente demais na Secretaria pendurada no poder dela''. As fitas estão sendo periciadas em um laboratório fora do DF.

Lotado na subsecretaria de Apoio Operacional, o depoente disse que Maristela lhe ofereceu um habeas corpus, mas que ele recusou. Teriam sido registradas conversas ''a título de segurança'' em duas reuniões na consultoria, outras duas na casa de Eurides e um quinto encontro, na Asa Norte.

O servidor conta que, nas fitas, Eurides confirma um almoço com Achilles de Santana, ex-presidente da CPL. Segundo Achilles, no encontro, em 2003, a distrital teria pedido a desclassificação na concorrência da Esave Transportes. Também na gravação, Maristela afirmaria estar de posse de processos sobre licitação de transportes requeridos há dois meses pela CPI.

Diante da afirmação, os cinco integrantes da CPI foram ao Buritizinho (anexo do Palácio do Buriti na 516 Norte) buscar os documentos. Em seu gabinete, Maristela afirmou aos deputados que pegou os papéis a pedido de Antônio, mas que os havia devolvido ao prédio da Secretaria no Setor de Indústrias e Abastecimento. De acordo com o presidente da CPI, Augusto Carvalho (PPS), o secretário de Governo, Benjamin Roriz, prometeu agilizar a entrega de cópias dos processos.

Na saída do edifício, o deputado João de Deus (PP) bateu boca com Antônio César. Fiel aliado do governador Joaquim Roriz, João ameaçou dar voz de prisão ao depoente e afirmou que Antônio fez chantagem com Eurides e Maristela. Sandro Vieira, assessor parlamentar de Eurides, apresentou uma lista de reivindicações do servidor, a qual teria sido entregue na última sexta-feira. Antônio negaa. Dentre os pedidos estão o pagamento de R$ 220 mil, a quitação de uma dívida de US$ 5 mil e sua liberação para assumir um cargo na Câmara Legislativa - ''as solicitações serão aguardadas até às 18h do dia 01/06'', vinha escrito. Por meio de nota à imprensa, Maristela afirma ter sido chantageada.

Os distritais também foram à casa de Antônio para buscar indícios no computador pessoal do servidor. O equipamento não estava mais lá.

Durante todo o depoimento na Câmara, Antônio trocou gestos com Manoel Carneiro, ex-tesoureiro de Eurides Brito e autor de denúncias ao Ministério Público do DF de suposto caixa dois na campanha de 2002. Desde março Manoel trabalha para para o deputado Wilson Lima (Prona), na 1º Secretaria.