Título: Aposentado usa crédito para escapar de agiotas
Autor: Samantha Lima e Bruno Rosa
Fonte: Jornal do Brasil, 05/06/2005, Economia & Negócios, p. A17

Mais da metade dos aposentados e pensionistas que está utilizando o crédito consignado, com desconto em folha, está saldando suas dívidas e de seus familiares. É o que mostra pesquisa inédita feita pelo Fecomércio-RJ encomendada pelo Jornal do Brasil. O dado, que aponta em 57% o percentual dos idosos que recorreram ao expediente, se torna ainda mais cruel ao ser cruzado com outro levantamento, do Sindicato Nacional dos Aposentados no Rio: 98% dos aposentados e pensionistas estão endividados, sendo 65% no cheque especial e 33%, comprometidos com terceiros - o que, em muitos casos, significa empréstimos de agiotas.

Prova de que o orçamento dos idosos está cada vez mais achatado, o levantamento ainda revelou que parte deles está usando o dinheiro do crédito consignado, obtido a juros mais baixos - em média, entre 1,5% e 3,9%, contra cerca de 5% das demais linhas de crédito pessoal - para comprar alimentos e arcar com despesas médicas.

- O crédito consignado fez com que os aposentados tivessem acesso a um crédito mais barato. Antes, ficavam reféns das altas taxas cobradas no cheque especial e nas financeiras. Por isso, eles estão aproveitando o dinheiro para saldar dívidas, além de cuidarem de sua saúde, já que a assistência do governo não atende a todos - observa Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Rosane Almeida, de 65 anos, decidiu recorrer a um agiota quando a neta de 3 anos teve um problema de saúde. Como o pai da menina estava desempregado, ela se submeteu a taxas de 12% ao mês, em oito prestações de R$ 600 para obter de forma rápida os R$ 3 mil de que precisava para internar a criança num hospital particular. Mas, com uma dívida que comprometia metade da aposentadoria, viu-se obrigada a pedir que o agiota adiasse, algumas vezes, o depósito dos cheques no valor das prestações.

- Minha vida virou um inferno. Ele me pressionava por telefone. Tive de atrasar o pagamento de contas e deixei de pagar meu plano de saúde. Sorte que não precisei ir ao médico no período, mas foi um risco porque sou hipertensa - conta.

Cansada da pressão, ela recorreu a um banco, para quitar as últimas prestações. Obteve R$ 1.500, a uma taxa de 5% ao mês. Até que descobriu a possibilidade de pedir emprestado a juros menores com o desconto diretamente no benefício.

- Pedi R$ 3 mil e vou pagar 36 de pouco mais de R$ 100 por mês. Além de me livrar da dívida anterior, vou pagar contas atrasadas e guardar um pouco - comemora.