Título: Empréstimo põe comida na mesa
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/06/2005, Economia & Negócios, p. A17
Dos aposentados ouvidos pela Fecomércio que recorreram ao crédito consignado, 2,6% utilizaram os recursos para compra de alimentos. Para 10%, o objetivo é cobrir despesas médicas. Outros 2,6% destinaram o dinheiro ao consumo.
A modalidade de crédito completou um ano em maio e se tornou o grande filão dos bancos. Nos primeiros 12 meses, mais de 2,6 milhões de pessoas tomaram R$ 2,6 milhões emprestados.
- O primeiro estágio de utilização do crédito é saldar as dívidas. Neste caso, há apenas uma transferência de renda, a um custo menor. Somente quando as contas estiverem em dia é que os recursos obtidos irão para o consumo - endossa Miguel de Oliveira, da Anefac.
Carlos Thadeu de Feitas, professor do Ibmec-RJ e ex-diretor do Banco Central, lembra que 43% dos aposentados no país recebem até um salário mínimo. A inflação também consome a renda dos idosos, que não cresce no mesmo ritmo dos preços dos remédios e alimentos.
- A falta de ganho real e o peso das tarifas administradas prejudicam em muito o consumo dos aposentados. Assim, eles também começam a fazer empréstimos para arcar com a alimentação.
Segundo a Fecomércio-RJ, o valor médio do empréstimo consignado dos entrevistados foi de R$ 2.700. Por mês, em média, cada prestação corresponde a 20% do benefício. Pelas regras do Ministério da Previdência, o valor do crédito só pode ser de até 30% da aposentadoria mensal.
Após sofrer uma fratura no fêmur, Gilda de Oliveira, de 65 anos, passou a ter dificuldades em comportar na aposentadoria que recebe do estado, de R$ 2.400, as despesas infladas pelos gastos com remédios. Ela começou a atrasar contas e prestações em lojas de roupas e de eletrodomésticos. A situação a levou à depressão.
- No sufoco, um parente me emprestou dinheiro a juros de poupança. Mas achei injusto e, por isso, optei pelo empréstimo com desconto em folha. Peguei R$ 5 mil a juros de 1,5%, por 36 meses. O problema é que minha aposentadoria não é reajustada há 11 anos.
- A renda comprimida é sentida pelo alto número de parcelas desses aposentados. Quase 40% dos aposentados ou pensionistas pagam o empréstimo entre 25 e 36 parcelas. E apenas 25% pagam em até um ano - ressalta Paulo Brück, coordenador de pesquisas da Fecomércio.