Título: Lagoa da Tijuca está assoreada
Autor: Carolina Benevides e Florença Mazza
Fonte: Jornal do Brasil, 05/06/2005, Rio, p. A28

Uma breve navegação pela Lagoa da Tijuca dá uma idéia do triste panomara em que se encontra o sistema lagunar da Barra e Jacarepaguá. Garrafas plásticas, lixo e fezes dividem o espaço com um mar de gigogas - planta que se prolifera com o excesso de matéria orgânica na água. Dados da Comissão de Meio Ambiente da Alerj revelam que as lagoas de Camorim, Tijuca e Jacarepaguá perderam juntas 2,7 milhões de metros cúbicos de seu espelho d'água, em apenas 26 anos, de 1960 a 1986. E mais: segundo estimativas do oceanógrafo David Zee, nos últimos 13 anos, a Lagoa da Tijuca perdeu de 50% a 70% de sua superfície. - A profundidade da lagoa, que chegava a 1,5 metro, hoje tem 20 centímetros. Quando a maré está baixa, vira um pântano, com a proliferação de mosquitos e répteis - lamenta Zee.

O lançamento de esgoto sem tratamento é outro grande inimigo do sistema lagunar da Zona Oeste. O biólogo Mário Moscatelli denuncia que são jogadas de cinco a seis toneladas de esgoto por segundo nas lagoas da região.

- O que se vê nas lagoas é fruto do que acontece no entorno: ocupação desordenada e falta de saneamento. É uma pena, pois esta região tem um enorme potencial turístico e poderia gerar muitos empregos - afirma Moscatelli. Ele acrescenta que em 1997 a Lagoa da Tijuca tinha 16 milhões de coliformes fecais por 100 ml de água, 1.600 vezes acima do limite:

- De lá para cá, a situação só piorou.

O deputado estadual Carlos Minc (PT), presidente da comissão de Meio Ambiente da Alerj, teme que venha a acontecer na Barra o mesmo que na Baía de Guanabara. Lá, segundo Minc, apenas 20% do esgoto lançado nas águas são tratados porque a rede coletora não foi concluída e muitos dejetos são lançados in natura na baía.

- A comissão fez um levantamento e, apesar de o emissário da Barra e a estação de tratamento estarem em andamento, só 25% da rede coletora foram implantados. Corre o risco de daqui a um ano termos uma estação em funcionamento mas tratando só a menor parte do esgoto - diz Minc.

O presidente da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla), Ícaro Moreno Jr., admite que a Lagoa da Tijuca é a pior entre as que formam o complexo de Jacarepaguá, recebendo 24 toneladas de lixo por dia e 2.160 litros de esgoto por segundo.

- Mas ela tem velocidade e saída para o mar. Por isso, a concentração de poluentes nas outras é maior - diz Ícaro, acrescentando que a Serla está fazendo obras para melhorar o complexo lagunar da região. Segundo ele, a Cedae está investindo R$ 400 milhões no projeto e a Serla outros R$ 40 milhões. Só da Tijuca serão retirados 1,4 milhão de metros cúbicos de lodo, dos cerca de 5 milhões existentes.

- A dragagem da lagoa e a desobstrução dos canais causam uma melhora. Mas o que vamos fazer com os outros 4 milhões de metros cúbicos de lama? - indaga Moscatelli, apontando ainda a ocupação das faixas marginais das lagoas e a construção de casas sobre os manguezais.

A degradação também se repete na Baía de Guanabara. Moscatelli, que sobrevoou a área esta semana, conta que há a presença de esgoto na superfície desde a Marina da Glória até a o Rio Sarapuí, em Duque de Caxias. Além do esgoto, que é despejado pelos rios que desaguam na baía, a proliferação de lixões em Caxias e São Gonçalo contribuem para a emissão de resíduos sólidos.

Quem vive da pesca na região sente no bolso os reflexos da poluição. Presidente da colônia de pesca Z8, que vai de Niterói a Magé, Gilberto Alves conta que muitos pescadores estão migrando para Angra, Paraty e Araruama.

- Alguns tiveram quedas de até 70% nos lucros. Tem pescador passando fome aqui - desabafa.

Ele afirma que espécies como o bagre amarelo, bagre bandeira e cação, além de arraias, não são mais encontrados na baía. Antes do vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo, em 2000, cada barco pescava até 300 quilos de camarão de julho a outubro. Cinco anos sem a espécie, este ano os camarões voltaram à baía, mas o acidente com os trens da Ferrovia Centro-Atlântica, em abril, deu fim às esperanças.

- O óleo vazou bem na época do defeso dos camarões - lamenta Gilberto.