Título: Crédito mais caro e menos expansão
Autor: Janaína Leite
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2004, Economia, p. A-17

O economista-chefe para mercados emergentes do ABN Amro, Arturo Porzecanski, disse acreditar que o Copom sabe da necessidade de um ou mais ajustes substanciais nos preços dos combustíveis. Portanto, o governo teria optado por se precaver e mirar também na inflação de 2005. - Você colhe o que planta. O Brasil é conhecido pelos agentes financeiros internacionais pela preferência pelo gradualismo. Muitos meses atrás já era possível saber que a inflação de 2004 ficaria acima do centro da meta. Ora, um BC que, em poucos anos de regime de metas de inflação, errou repetidas vezes deveria ter agido com mais firmeza desde aquela época, principalmente porque as expectativas em relação a 2005 também já se afastaram em direção ao teto da meta. Mas antes tarde do que nunca - avaliou.

Com a alta da Selic, os financiamentos e empréstimos para pessoas físicas vão ficar ainda mais caros, e as empresas que dependem de crédito podem ter os juros alterados em novos contratos. As redes de varejo que financiam vendas a prazo informaram que irão decidir, nos próximos dias, se sobem os juros ou não. Até lá, reduções nas taxas devem ser engavetadas.

Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média de juros para a população subirá de 142,2% ao ano para 143,28%; para as empresas, passará de 67,27% para 68,04%. A probabilidade maior, de acordo com representantes de associações comerciais e analistas, é de um reflexo imediato nas taxas cobradas do consumidor. Isso por conta do aumento no custo financeiro que as lojas passarão a ter para captar dinheiro.

Estimativas da Anefac mostram que, com a alta da Selic, os juros no cartão de crédito passarão de 213,84% ao ano para 215,22%. No empréstimo pessoal em bancos, por sua vez, subirá de 99,4% ao ano 100,31%.

Além de custar caro para o consumidor, a decisão do Banco Central impõe um teto para o crescimento do próximo ano, na avaliação do especialista Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.

- O BC mandou um recado para os empresários: pensem duas vezes na hora de investir - afirmou.