Título: BC reage à pressão e acelera alta de juros
Autor: Janaína Leite
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2004, Economia, p. A-17
Em demonstração de autonomia, taxa básica é elevada para 16,75% ao ano, apesar de recuo dos índices de inflação
Juros mais salgados do que o esperado, para evitar um estouro da inflação. Essa foi a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que ontem anunciou a alta da taxa básica da economia (Selic) de 16,25% para 16,75% ao ano, sem viés. A taxa serve como parâmetro para todas as operações financeiras locais, inclusive os empréstimos bancários. O Copom foi mais duro do que previam os analistas. O consenso de mercado era de uma alta de 0,25 ponto percentual, para 16,5% anuais. Com a decisão, os brasileiros ficam submetidos à maior taxa de juros desde novembro de 2003. É a segunda alta consecutiva: em setembro, a taxa já havia subido de 16% para 16,25% ao ano.
- Foi uma surpresa, mas a atitude do BC é compreensível, porque os ventos mudaram sobre o Brasil. O cenário externo de confiança com o qual o país contava piorou nos últimos dias. O petróleo está sendo negociado a valores muito acima do que a Petrobras vem praticando e, dentro de semanas ou dias, ela terá de adequar isso ao mercado interno - ponderou ao Jornal do Brasil o economista-chefe para mercados emergentes do ABN Amro, Arturo Porzecanski, de Nova York, por telefone.
Contraditoriamente, dois índices divulgados antes da reunião apontavam desaceleração da inflação, trazendo esperanças de uma puxada menor dos juros. A segunda prévia do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas, apontou alta de 0,12%, contra 0,61% em igual período de setembro. Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que mede os preços na capital paulista, subiu 0,38% na segunda quadrissemana de outubro, contra 0,56% em igual período do mês anterior.
A alta inesperada ocorre num momento em que o BC enfrenta pressões para afrouxar a política monetária e é alvo de especulações sobre a saída de seu presidente, Henrique Meirelles.