Título: Presidente não quer ser refém
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Fonte: Jornal do Brasil, 07/06/2005, País, p. A2

A estratégia do Planalto de desqualificar a denúncia do deputado Roberto Jefferson e blindar o governo foi revelada no fim da tarde de ontem. Depois de um dia intenso de reuniões do chamado ¿Gabinete da Crise¿, que mobilizou ministros e assessores do governo, a palavra final foi dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ¿ Não podemos ficar reféns de Jefferson, disse Lula, que semanas antes o chamara de parceiro.

Ao ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, foi delegada a tarefa de, como porta-voz, seguir à risca a estratégia de defesa traçada pelo Executivo. Em entrevista rápida, disse que a denúncia não atinge o governo. Relata apenas suposto pagamento de mesada do PT ao PP e PL.

¿ Não há nenhuma acusação contra o governo ¿ disse Aldo, jogando, mesmo que indiretamente, uma eventual culpa no colo do PT e do tesoureiro do partido, Delúbio Soares, fonte pagadora do mensalão, segundo Jefferson.

Aldo reconheceu que Lula já tinha conhecimento do mensalão. Afirmou que participou de reunião com o presidente, Jefferson, e os líderes do PTB, José Múcio Monteiro e do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, além do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, durante a qual Jefferson fez referências genéricas a pagamento a parlamentares. Segundo Aldo, depois do encontro, Lula pediu a ele e Chinaglia que investigassem o assunto.

Dias depois, de acordo com o ministro, teriam sido levadas ao presidente a reportagem publicada pelo JB a respeito do mensalão e a notícia de que a Corregedoria da Câmara tomara providências para apurar as denúncias. Ainda segundo o ministro, durante o encontro, nenhum dos interlocutores teve a curiosidade de saber de Jefferson a origem do dinheiro e o autor do pagamento aos parlamentares.

A mobilização do ¿Gabinete da Crise¿ começou cedo. Por volta das 5 horas da manhã, ministros foram instados a correr para o Planalto. O primeiro passo foi cancelar um pronunciamento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Em seguida, ponderou-se que o governo não teria outra alternativa senão dar uma resposta rápida à opinião pública. Seria o modo adequado para blindar Lula das acusações. Uma das propostas teria sido levantada por Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula.

Carvalho sustentava que o presidente deveria pedir o desligamento do PT, dizer que se sentiu traído e anunciar ampla reforma ministerial. A idéia, no entanto, foi logo descartada, depois de ministros argumentarem que o presidente poderia, ao se descolar do PT, sair mais fragilizado.