Título: PT muda de idéia e decide apoiar a CPI dos Correios
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 08/06/2005, País, p. A4
BRASÍLIA - Bombardeado pelas sucessivas denúncias de corrupção, o governo e o PT mudaram de idéia e agora decidiram ser favoráveis à CPI dos Correios. Exigem, entretanto, que as investigações sejam restritas à estatal. As denúncias de pagamento de mesada a deputados em troca de voto favoráveis seriam apuradas em outra própria CPI.
Numa inversão de papéis, a oposição obstruiu as votações, na Comissão de Constituição e Justiça, evitando a votação de recurso que asseguraria a instalação da CPI. Disposta a sangrar um governo perdido, PSDB e PFL alegam que restringir a CPI dos Correios impediria a investigação ampla.
- É claro que é uma disputa política. A oposição quer um pretexto para dizer que somos contrários à investigação - protestou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).
A reviravolta petista foi decidida em reunião da bancada na manhã de ontem. As últimas denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson, apesar de não se referirem diretamente aos Correios, enfraqueceram o argumento dos aliados de tentar barrar a investigação no Congresso.
- O governo está investigando, mas os acontecimentos do fim de semana nos levam a dizer que é fundamental que se faça aqui na Casa a investigação - justificou o líder do PT, Paulo Rocha (PA).
Além de apoiar a CPI dos Correios, a idéia sugerir outra CPI para apurar o mensalão e levar o presidente do PTB para responder às denúncias na Corregedoria da Câmara. A estratégia é tentar incluir na outra CPI denúncias envolvendo o governo anterior, do PSDB, como o suposto suborno de deputados para votar a favor da emenda da reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1997.
Em visita ao Congresso, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, afirmou que o governo é ''enérgico''.
- O governo sempre se dispôs a colaborar com as investigações e, naturalmente a base, mediante os fatos recentes, fez essa posição evoluir - disse, abandonando de vez o discurso de que as investigações da polícia e dos órgãos de controle do governo seriam suficientes.
A oposição, entretanto, continua batendo na tecla de que a CPI deve ser ampla. Defende a idéia de que é inevitável abordar todos os temas de corrupção quando os depoimentos começarem. Para pefelistas e tucanos, basta apenas uma CPI. Ampliar o número de comissões só vai dificultar a apuração dos fatos.
- Não tem jeito. Quando chamarmos Jefferson para depor, ele vai falar sobre o mensalão - defendeu o vice-líder do PSDB, Eduardo Paes (RJ).
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi obrigado a concordar com a oposição. Para ele, qualquer CPI, quando for instaurada, vai retomar a acusação do pagamento das mesadas. Mesmo assim, ele defende a restrição das investigações.
- Temos de tomar cuidado para a questão da segurança jurídica, porque se não amanhã alguém investigado ou até mesmo condenado pelo trabalho da CPI será inocentando pela justiça - avaliou.