Título: Entrada da TAP na Varig gera polêmica
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Jornal do Brasil, 07/06/2005, Economia & Negócios, p. A23

A entrada da portuguesa TAP como controladora da Varig não será uma operação simples. A pulverização do capital votante da aérea brasileira em bolsa, na opinião do ex-presidente da empresa, Ozires Silva, é uma alternativa difícil de ser implementada. - Não sei quem compraria as ações. As principais companhias aéreas do mundo vivem um momento delicado. Com esse tipo de performance é difícil encontrar um investidor interessado num negócio de risco - disse.

Segundo Silva, dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) mostram que, nos últimos quatro anos, o mercado de transporte aéreo registrou um prejuízo de cerca de US$ 35 bilhões. A IATA representa hoje 270 linhas aéreas no mundo, que detêm 94% do tráfego aéreo internacional. Para este ano, segundo Silva, já estão sendo esperadas perdas de mais de US$ 5 bilhões. Em 2004, o prejuízo do setor chegou a US$ 4,8 bilhões.

O ex-presidente da Varig diz que lamenta se a única opção para a Varig for a perda de controle para uma companhia estrangeira.

- Entregar uma companhia nacional, do porte da Varig, por uma quantia irrisória não faz sentido. Nenhum país do mundo faria isso.

O Secretário de Organização Institucional do Ministério da Defesa, Antônio Carlos Ayrosa Rosière, disse que o ministro José Alencar, vem acompanhando com grande interesse os esforços da Varig em seu processo de reestruturação, mas que ''não cabe ao governo nenhuma ingerência na forma como a empresa e seus possíveis investidores e parcerias conduzem as suas negociações''.

O executivo do Ministério da Defesa também rebate o argumento de que faltaria um pouco de vontade política do governo em relação à situação da Varig. - O Ministério da Defesa entende que o governo está ciente disso, tanto é que tem atuado de todas as formas no sentido de favorecer para que a companhia possa encontrar as soluções que vem buscando.

Nos últimos anos, segundo o Secretário, as sucessivas renegociações e rolagem das dívidas de empresas como a Varig e a Vasp para com o fisco, a seguridade social, bancos oficiais e empresas públicas tem se dado sempre em bases extremamente generosas.

Sobre a hipótese de o governo antecipar o pagamento de uma indenização de R$ 2,5 bilhões que a Varig busca na justiça, Rosière disse que não compete ao Ministério da Defesa se posicionar sobre esta questão. Tal decisão, segundo ele, ''cabe à Advocacia Geral da União''. O Secretário disse que ainda é cedo para avaliar as medidas que vêm sendo tomadas pelo novo Conselho de Administração da Varig, mas que as informações recebidas da empresa até o momento, mesmo antes da mudança na direção, são alentadoras.