Título: OEA vai oferecer ajuda em diálogo
Autor: Olivia Hirsch e Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 08/06/2005, Internacional, p. A8

FORT LAUDERDALE - A Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu que vai se limitar a oferecer cooperação às ''legítimas autoridades'' bolivianas na crise que o país enfrenta. Ante a renúncia do presidente Carlos Mesa, a OEA aprovou uma declaração - o que não significa a tomada de uma ação imediata - na qual expressa sua vontade de ''facilitar o diálogo'' com vistas à superação da crise e à garantia das ''instituições democráticas''.

Na texto, são reconhecidos ''os esforços de Mesa para levar adiante o processo de maneira consensual'', e é destacado ''o papel que as instituições sociais relevantes, como a Igreja Católica, desempenharam e podem continuar desempenhando'' para a solução pacífica da crise.

As autoridades bolivianas, que rejeitaram qualquer ''mediação'' da OEA na conturbada situação política, confiam no bom julgamento da Igreja Católica, que tem grande influência nas classes menos favorecidas do país. O documento destaca ainda a ''generosidade'' de Mesa ao colocar seu cargo à disposição, para permitir o avanço de uma solução pacífica.

A declaração, de autoria brasileira, expressa ainda ''a necessidade de a renúncia do presidente da Bolívia ser considerada dentro das leis estabelecidas em sua Constituição''.

É feito, além disso, um chamamento ''a todos os setores do processo político boliviano para que, através do diálogo e do respeito aos direitos humanos, possam superar com prontidão a presente crise, em conformidade com as disposições constitucionais aplicáveis, preservando a democracia e garantindo a unidade nacional''.

A gravidade da situação em La Paz concentrou boa parte das atividades do último dia da 35º Assembléia Geral da OEA. Na opinião do secretário-geral, José Miguel Insulza, este ''é um assunto extremamente delicado que devemos aceitar com tranqüilidade. Mas não é possível pensar que a OEA não faça nada''.

O chanceler Juan Ignacio Siles del Valle agradeceu as demonstrações de solidariedade, mas reiterou que a Bolívia acha que são os bolivianos que têm que resolver seus problemas.

Mas na opinião de certas delegações, a OEA deveria ter um papel mais ''pró-ativo'' na nação andina. Para outras, o importante é satisfazer as demandas das autoridades segundo o princípio de não-intervenção.

Outro tema polêmico da Assembléia foi a proposta americana de criação de um mecanismo para monitoramento da democracia na América Latina. O projeto foi recusado por quase todos os países da OEA. Os EUA se viram obrigados a recuar e avisaram que vão rever o texto.