Título: Contra a crise, ministério novo
Autor: Sérgio Pardellas e Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 09/06/2005, País, p. A3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende anunciar nos próximos dias uma reforma ministerial ampla, geral e irrestrita, como forma de contornar a maior crise em que mergulhou o governo. A decisão foi tomada ontem e comunicada a pelo menos dois ministros do núcleo político do Planalto. Os únicos que estão garantidos nos respectivos cargos são os ministros da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. As alterações devem envolver as saídas do ministro da Previdência, Romero Jucá, e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeitas de diferentes tipos de irregularidades.

Mas a grande guinada na condução administrativa do governo, que está na gaveta do presidente, deverá ser o remanejamento do chefe da Casa Civil, José Dirceu, para uma pasta da área social - provavelmente a da Saúde - e de Aldo Rebelo, da Coordenação Política, que poderá ser deslocado para o ministério do Trabalho. Neste caso, Ricardo Berzoini poderia retornar à Previdência Social. Lula está inclinado a exonerar também os ministros do Turismo, Walfrido Mares Guia e o da Secretaria de Direitos Humanos, Nilmário Miranda.

Na reforma abrangente, os ministros gaúchos Tarso Genro, da Educação, e Olívio Dutra, das Cidades, por sua vez, deverão ser liberados para iniciarem campanha no estado visando às eleições de 2006. Ambos são pré-candidatos pelo PT ao governo do Rio Grande do Sul. O rearranjo da Esplanada incluiria ainda o enxugamento da máquina administrativa, com uma redução significativa no número de ministérios. Hoje são 35 pastas.

No rastro das medidas para reduzir os estragos da denúncia do mensalão, o presidente também articula um acordo com as principais lideranças peemedebistas. A base de apoio ao governo no Congresso seria composta hegemonicamente por PMDB e PT.

As costuras levariam a uma base de apoio menos fragmentada, na definição de interlocutores do presidente. O entendimento com os peemedebistas está sendo conduzido em parceria com o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador José Sarney (PMDB-AP), o presidente da sigla, Michel Temer (PMDB-SP), e as principais lideranças petistas.

- O presidente tem o nosso apoio pra fazer tudo o que achar necessário para preservar a sua biografia e as instituições do país - disse Renan Calheiros.

Com o apoio de todas as alas do partido, Lula contaria com a sustentação de pelo menos 70 deputados e 22 senadores do PMDB, isolando os peemedebistas ligados ao ex-governador do Rio Anthony Garotinho.

Somando-se os 91 petistas na Câmara e 11 no Senado, além dos parlamentares de PSB, PCdoB e parte do PL, o Planalto teria como angariar apoio de pelo menos 200 deputados.

Até o início da semana, o presidente resistia em fazer as mudanças. Havia um temor de que uma demissão em massa, neste momento, soasse como uma confissão de que o primeiro escalão estaria contaminado pela corrupção. Acuado pelas denúncias de corrupção em seu governo, mudou de idéia.

Segundo fontes do Palácio do Planalto, Lula resolveu ''renovar'' e ''reacomodar'' parte da equipe para dar mais eficiência à administração. Estão em sua cartilha ainda aumentar a comunicação com os parlamentares e recompor a relação política com a base de sustentação do governo no Congresso. A decisão veio após as denúncias do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson.

Lula disse a dois ministros que quer um ministério ''mais operante e mais ágil''. O presidente não estaria contente com a atuação de vários ministros. Nas conversas reservadas, Lula não poupa nem o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

A interlocução com o Congresso foi um dos principais vetores da crise, na avaliação de Lula, que acumula reclamações de ministros que não recebem deputados e senadores.

Segundo auxiliares de Lula, ele também gosta da administração e da ação política dos ministros Integração Nacional, Ciro Gomes, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Ciro não traz problemas para o governo, faz a máquina andar e tem interlocução com os congressistas. Bastos é considerado o exemplo do administrador que colocou a Polícia Federal para funcionar e também tem bom trânsito político. Lula elogia ainda o trabalho do controlador-geral da União, ministro Waldir Pires, que desenvolve auditorias nos municípios para combater a corrupção.

Colaborou Daniel Pereira