Título: Lula: ''É preciso andar para frente''
Autor: Bruno Agostini
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2004, Economia, p. A-19

Presidente reconhece risco de ''vôo de galinha''. Alta de juros contraria indústria automobilística, que teme redução nas vendas

A alta da taxa básica de juros não agradou aos empresários do setor automotivo, que estiveram reunidos ontem na abertura da 23ª edição do Salão Internacional do Automóvel, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente da Citroën do Brasil, Sérgio Habib, classificou como ''desnecessária'' a elevação de 0,5 ponto percentual.

- A inflação está em queda e sob controle e os aumentos na taxa de juros sempre são prejudiciais à economia - defendeu o empresário.

Vice-presidente da Ford na América Latina, Antônio Maciel Neto questionou o aumento do consumo:

- A inflação é a pior coisa para a economia e o cuidado com ela é fundamental. Mas, por outro lado, os juros estão muito altos e isso pode aumentar as expectativas negativas do empresariado e retrair o mercado. Temos que avaliar também se não há demanda para provocar inflação. Ao meu ver, não há.

Durante seu discurso, Lula evitou falar abertamente sobre a decisão do Copom. Mas respondeu, indiretamente, às queixas dos empresários.

- Tenho consciência dos vôos de galinha que esse país já deu. Quantas noites fomos dormir achando que o país tinha definitivamente recuperado sua economia e, no dia seguinte, acordávamos devendo mais do que a gente devia na noite anterior. É melhor você andar com passos mais lentos, mas andar sempre para frente, do que dar um passo muito grande e quebrar a cara no primeiro pulo - afirmou Lula.

Mais de 30 montadoras com negócios no Brasil exibem as novidades da indústria automotiva a partir de hoje, no Pavilhão do Anhembi, em São Paulo. É lá que os novos modelos são testados e se faz um balanço do setor.

Depois de um período de queda acentuada nas vendas, a indústria automotiva brasileira comemora o crescimento verificado nos últimos meses. O alto astral das montadoras não se refletiu, entretanto, no pacote de novidades.

- Há 15 anos não acontece um salão tão carente em novidades. Não há nenhum modelo nacional novo, apenas versões. Isso é um reflexo da retração do mercado que aconteceu nos últimos anos, em especial em 2002 e 2003. As montadoras estavam perdendo muito dinheiro no Brasil. E, com prejuízo, ninguém investe - explicou Sérgio Habib.

Um dos dramas das 17 montadoras instaladas no país é a baixa demanda interna. Nos últimos dez anos, as empresas investiram US$ 27,8 bilhões no Brasil. Hoje, o parque industrial tem capacidade de produção de 3,2 milhões de veículos por ano. Somando as vendas no mercado interno (cerca de 1,5 milhão de unidades por ano) com as exportações (500 mil) o nível de produção do país ainda fica muito aquém da capacidade instalada.

- Ficamos na torcida pelo aumento do PIB brasileiro, que carrega com ele a alta no nível de emprego e, em conseqüência, do número de automóveis vendidos. Para 2005, projetamos um mercado de 1,6 milhão de automóveis. Este ano devemos fechar com 1,45 milhão de carros vendidos, 100 mil a mais que em 2003 - comentou o superintendente da Fiat para a América Latina, Cledorvino Bellini.

Os números ainda estão um tanto distantes de 1997, quando foram produzidos 2 milhões de automóveis no país - dos quais 1,8 milhão foram vendidos. Mas as expectativas das montadoras são mais positivas com a retomada do crescimento.

- Ainda temos mercado para crescer. A Argentina, por exemplo, tem um carro para cada cinco habitantes, enquanto o Brasil tem um para nove - completou Bellini.

Combustíveis alternativos estão na pauta das montadoras. Além dos modelos bicombustíveis, coqueluche do mercado, veículos movidos a biodiesel ganharam os holofotes nos estandes. E mostram que o Brasil está muito desenvolvido na área ecologicamente correta.

- Com a alta no preço do petróleo, cada vez mais temos que investir em energias alternativas. E o Brasil está em uma posição privilegiada - analisou Ray Young, presidente da General Motors do Brasil. Hoje, Fiat, Volkswagen, GM e Ford já contam com a tecnologia. Peugeot e Citroën lançam no próximo ano modelos semelhantes.