Título: Brasil Ferrovias vai ter que abrir contas
Autor: Janaína Leite
Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2004, Economia, p. A-20

BNDES impõe condições para socorro

''Só confio nas estatísticas que manipulei''. A frase - proferida no século pasado por um mestre do xadrez político, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill - resume bem o estado de espírito que se apodera da cúpula do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) quando o assunto é a recuperação da Brasil Ferrovias. Para liberar R$ 600 milhões prometidos para tirar a companhia do atual buraco contábil, o banco exigiu garantias de boa governança corporativa. A empresa terá de ser acompanhada por uma consultoria de gestão - a Angra Partners - e será obrigada a implementar dois comitês, um de auditoria e outro financeiro. Hoje sufocada sob o peso de uma dívida que chega a R$ 1,6 bilhão, a Brasil Ferrovias será submetida ainda a uma due dilligence. Isso significa que os administradores serão obrigados a se colocar à disposição de analistas e investidores, com o intuito de sanar todas as dúvidas sobre o histórico e a credibilidade financeira do negócio. O BNDES não está nessa sozinho. Tem o apoio do sócio majoritário da Brasil Ferrovias, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Gigante pela própria natureza - é a maior entidade de previdência complementar da América Latina, com investimentos de R$ 58,4 bilhões -, a Previ resolveu fazer um pente-fino na gestão de seus investimentos mais promissores. No topo da lista estavam as teles, mas a disposição do Planalto em deflagrar um grande plano de recuperação das ferrovias colocou a prioridade do fundo em outros trilhos.