Título: Dantas será julgado por espionagem
Autor: Vivian Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 09/06/2005, Economia & Negócios, p. A23

Depois de aceitar as denúncias apresentadas pelo Ministério Público contra o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e a presidente da Brasil Telecom, Carla Cico, e outras 19 pessoas envolvidas no caso Kroll, o próximo passo da Justiça paulista será reunir provas e ouvir depoimentos. A sentença, no entanto, não será muito rápida, dizem especialistas, apesar do grande número de denúncias.

- Uma ação penal desse porte demora, em média, cerca de dez anos para ser julgada - afirma o criminalista Jair Jaloreto Junior, do escritório Campos Bicudo Jaroreto Louzada e Dietrich Advogados.

No início dessa semana, a Quinta Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo aceitou duas das três denúncias apresentadas pelo MP contra os envolvidos no escândalo da Kroll Associates. Daniel Dantas e Carla Cico responderão por formação de quadrilha, receptação qualificada e divulgação de segredo, com o agravante de causar prejuízo à administração pública. Segundo o MP, eles contrataram a multinacional de investigações para espionar executivos da Telecom Itália na disputa pelo controle da terceira maior empresa de telefonia fixa no país, a Brasil Telecom. Se condenados, podem pegar até 15 anos de prisão. Eles e outros envolvidos serão ouvidos entre 18 e 19 de julho.

Em outra denúncia também aceita pela Justiça, no mesmo caso, 19 empregados e colaboradores da Kroll responderão por uma série de acusações, que vão desde formação de quadrilha, violação de sigilo funcional, receptação qualificada até corrupção ativa. As penas para os crimes, somadas, podem chegar a 25 anos de prisão. Eles prestarão depoimento entre os dias 11 e 13 de junho.

- A decisão é tão inconsistente quanto o indiciamento - diz o advogado de Dantas e de Carla Cico, Nélio Machado. Segundo ele, no processo, ficará clara a inocência de seus clientes.

Nos Estados Unidos, Dantas sofreu nova derrota. O juiz Lewis Kaplan, da Corte de Nova York, fez novas restrições à venda das ações que o Opportunity possui na Brasil Telecom à Telecom Italia. O processo em Nova York foi movido pelo Citibank, aliado dos fundos de pensão contra Dantas na disputa pelo controle acionário da operadora brasileira.