Título: Continuísmo marca debate na UnB
Autor: Soraia Costa
Fonte: Jornal do Brasil, 08/06/2005, Brasília, p. D8

O primeiro debate entre os candidatos à reitor da Universidade de Brasília aconteceu, ontem, no Anfiteatro 14 da Ala Norte, do Instituto Central de Ciências. O debate foi organizado pelos alunos do Programa de Educação Tutorial (PET), que reúne 11 grupos de 11 cursos diferentes, para a discussão das propostas e idéias dos candidatos à cerca de questões polêmicas que circundam a Universidade. O evento foi agendado com a Comissão Organizadora de Consulta e com os três candidatos, Timothy Mulholland, Luiz Gonzaga Motta e Michelangelo Giotto Trigueiro. Nos dias 15 e 16 de junho, cerca de 30 mil pessoas (26.673 alunos de graduação e pós-graduação, 1.297 professores e 3.663 funcionários) poderão ir às urnas para escolher quem assumirá a reitoria da UnB após o segundo mandado de Lauro Morhy.

O atual reitor está há oito anos na gestão da universidade, juntamente com seu vice, Timothy Mulholland, um dos candidatos na presente eleição. Além de Mulholland, que é professor de Psicologia, concorrem à vaga o professor de Comunicação Luiz Gonzaga Motta e o professor de Sociologia Michelangelo Giotto Trigueiro, que foi decano de graduação por dois anos. Os três são doutorados e estão na UnB há cerca de 30 anos.

O debate foi dividido em três módulos. No primeiro os candidatos fizeram a apresentação de suas propostas, no segundo responderam às perguntas dos oponentes e em um terceiro momento responderam aos questionamentos do público. Luiz Gonzaga Motta e Michelangelo Trigueiro afirmaram a necessidade de mudanças na gestão da UnB para melhorar a qualidade do ensino e disseram que o continuísmo está afastando a Universidade daquilo que foi pensado por Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro.

Diante das propostas apresentadas por Timothy que disse buscar uma UnB autônoma, ativa e suprapartidária, os outros dois candidatos questionaram como o atual vice reitor pode propor mudanças, uma vez que está há 12 anos participando da administração da Universidade, oito como vice e quatro como chefe de Gabinete do então reitor João Cláudio Todorov.

Timothy garantiu que existem quatro propostas de inovação para a graduação, cinco para a pós e sete para a extensão em seu programa, sem especificá-las. Afirmou ainda que, independentemente do vencedor, é preciso haver uma união pelo bem da Universidade. Michelangelo garantiu que fazia oposição à administração, embora tenha sido decano de graduação, e acusou Luiz Gonzaga Motta - ex-secretário do então governador Cristovam Buarque - de estar defendendo interesses partidários.

Brigas à parte, a escassez de professores e a necessidade de melhorias na infra-estrutura da UnB foi consenso entre os três. O público presente enfatizou a importância dos debates e lamentou que eles não sejam frequentes. Murilo Camargo, professor do Departamento de Computação, afirmou que, com o debate, a comunidade pode perceber quem são os candidatos mais preparados.

A professora de Psicologia, Lúcia Paulino, achou o evento maravilhoso, por ter sido realizado pelos alunos e questionou por que não há paridade de votos. Atualmente o voto dos professores tem um peso maior que o de funcionários e alunos.

- Mais do que o debate, gostei de haver o debate. Todos tem que ter o mesmo direito - afirmou Paulino.