Título: Câmbio fará estragos
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 08/06/2005, Economia & Negócios, p. A21
Se as exportações ajudaram até agora, o ritmo desse reforço pode ser enfraquecido nos próximos meses, alertam analistas. Segundo Guilherme Maia, da Consultoria Tendências, as exportações seguem em expansão neste segundo trimestre, porém em um ritmo mais devagar. ¿ Um indicador deste efeito é a diminuição do quantum exportado, em virtude do câmbio muito baixo ¿ avalia Maia, que ressalta que efeito negativo mesmo deve aparecer somente a partir do segundo semestre.
Entretanto, segundo Maia, os setores de construção civil e extrativa mineral prometem reforçar o resultado da indústria no período. Nos primeiros quatro meses do ano, a produção industrial avançou 4,5%. Nos 12 meses encerrados em abril, a expansão é de 7,5%, abaixo, portanto, do resultado de 2004 (8,5%). A perspectiva não é positiva, segundo o economista Celso Toledo,
¿ O crescimento de 2004 se baseou na expansão ocupando a capacidade ociosa. Daqui para frente, para crescer, é preciso investir e não há clima para isso. Os juros estão altos, há muita burocracia e corrupção. Com isso, a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano ficará em torno de 3% e a produção industrial não deve sair muito de perto do patamar de 7,5% ¿ avalia.
A opinião é compartilhada por empresários. Ontem, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf, disse que o resultado mostrado pelo IBGE não é novidade.
¿ Os empresários estão assustados e por isso adiaram os investimentos ¿ afirma Skaf. ¿ Não ficaremos surpresos se, em breve, a produção total da indústria apresentar variação negativa. Afinal, este é o script da peça ditada pelos altos juros que o Banco Central impõe ao país.
No primeiro quadrimestre, a taxa básica de juros (Selic) subiu 1,5 ponto percentual, de 18,25% para 19,75% ao ano.
A notícia da indústria, no entanto, não é de todo negativa, diz o economista Guilherme Maia.
¿ Na última ata, o Copom (Comitê de Política Monetária) apontou como um fator de observação a atividade industrial. A estabilidade pode ser mais um indicador para que o BC não eleve a taxa neste mês ¿ acredita.