Título: Governo propõe CPI da mesada
Autor: Daniel Pereira e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 10/06/2005, País, p. A2
Apesar de o governo ter negado, no início da semana, que a prática exista, a bancada governista na Câmara protocolou ontem um pedido de instalação de CPI para investigar a compra de votos de deputados. Exigiram, entretanto, que a comissão examine também as denúncias de pagamento de propina a deputados em 1997, quando foi aprovada a emenda da reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O pedido foi protocolado com mais de 200 assinaturas, incluindo de deputados do PP e do PL.
A dúvida até o momento é se a CPI entrará de fato em funcionamento. Existem 40 Comissões de Inquérito na Câmara à espera de instalação. Segundo os autores do requerimento, foi anexado um projeto de resolução, garantindo que o pedido será votado com prioridade, independentemente da pauta trancada.
Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a proposta de CPI para investigar as denúncias de mensalão mostra que a gestão de Lula não tem interesse em deixar fatos sem explicação. Também aproveitou para cutucar a oposição, ao justificar a investigação da aprovação da emenda da reeleição.
- Por que eles estão tão ávidos de investigar, se quando tivemos fatos semelhantes no passado, que levaram dois parlamentares à renúncia, a CPI foi abafada?
Em uma outra frente, PV, PDT e PPS recolheram assinaturas para uma CPI mista que também servirá para investigar o pagamento de mesadas. Este pedido já conta com assinaturas suficientes, mas ainda não foi protocolado porque os autores esperam uma ''gordura'' maior para evitar desistências de última hora. De acordo com um dos autores do requerimento, o deputado Raul Jungman (PPS-PE), o governo está adotando uma estratégia diversionista ao protocolar uma CPI na Câmara.
- A CPI vai entrar lá na fila. Isso é conversa de quem não quer apurar nada.
O vice-líder do PP, Ricardo Barros, também criticou o que classificou de manobra governista. Para ele, a atitude contraria os princípios de criação de uma CPI.
- CPI é instrumento da minoria. Nunca vi a maioria propor isso.
O vice-líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), afirmou que a tendência é que as duas CPIs acabem convergindo para uma só. Mas não esconde a vontade de que a proposta feita pelos aliados saia vencedora.
- Existe um incômodo com a possibilidade de senadores investigarem deputados - justificou Casagrande.