Título: CPI dos Correios é instalada sem presidente nem relator
Autor: Daniel Pereira e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 10/06/2005, País, p. A2

A bancada governista e de oposição não chegaram a um acordo na sessão de instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, realizada ontem, e adiaram para a próxima terça-feira a escolha do presidente e do relator da CPI. Os governistas, que são 19 dos 32 integrantes da comissão, cogitaram realizar uma votação ontem mesmo para definir a questão, o que lhes asseguraria o controle dos dois postos capitais.

A oposição reagiu. Alegou que, se ficasse sem um das funções, a CPI seria desacreditada. Além disso, prometeu retaliações ao longo da investigação. Para impedir que a CPI ''desandasse'' logo no início, o senador Jefferson Peres (PDT-AM), na presidência interina dos trabalhos, suspendeu a sessão.

- Tenho a percepção de que, se a CPI desandar no nascedouro, será péssimo para o Congresso - afirmou Peres, pedindo as partes que buscassem um acerto.

Não foi a única divergência do dia. Reunidos em almoço, os partidos da bancada governista decidiram que investigarão atos dos Correios desde 1995. Ou seja, desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso.

- Temos dez anos para ser investigados com todo o rigor. É fundamental que a sociedade possa comparar os diversos períodos - disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

O líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio, retrucou afirmando que a apuração pode ser estender até Pero Vaz de Caminha, desde que comece pelo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A disputa pela presidência e a relatoria dominou a pauta do Congresso ao longo do dia. Foram pelo menos duas reuniões entre a bancada governista e de oposição em busca de consenso. Em vão. PSDB e PFL defendem a repetição do modelo adotado na CPI da Terra, que tem na presidência o tucano Álvaro Dias (PR) e na relatoria o petista João Alfredo (PT-CE). Sugeriram o senador César Borges (PFL-BA) para a presidência da CPI dos Correios, deixando a outra vaga nas mãos dos aliados do Planalto.

- Se não for respeitado (o modelo), as conseqüências fugirão de nosso controle. Há exemplos recentes de perda de eficiência dos trabalhos por conta de radicalismos - declarou o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).

Virgílio acrescentou que para a oposição seria melhor o governo levar a questão a voto, ficando com os dois postos-chave. Passaria à opinião pública a idéia de que pretende abafar a investigação. A mesma tese já foi defendida pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL). Nada que demovesse, pelo menos ontem, os partidos alinhados ao Planalto.

- Não tendo acordo nem conforto, vamos logo à votação - bradou o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), durante a sessão de instalação da CPI.

O PMDB e o PT não aceitam César Borges. Consideram-no oposicionista demais. E sugeriram dois nomes em sua substituição: Edison Lobão (PFL-MA) e Roseana Sarney (PFL-MA). A oposição não aceitou porque, ambos os senadores eleitos pelo Maranhão, não compõem a CPI e são ligados ao ex-presidente José Sarney, aliado de Lula. A tendência é que, na terça-feira, os parlamentares governistas apresentem para votação uma chapa puro-sangue: o líder do PT no Senado, Delcidio Amaral (MS), para a presidência e o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para a relatoria da CPI dos Correios. Além de votos, os governistas têm argumentos para bancar a dupla.

Entre eles, precedente criado pela própria oposição, que indicou em uma comissão sobre salário mínimo o presidente, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), e o relator, deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ).